Papa diz que diálogo entre religiões "é essencial" para combater os extremismos

Francisco encontrou-se com líderes religiosos e presidiu a missa campal em Nairobi. Na sede do Programa das Nações Unidas para o Ambiente disse que seria "catastrófico" se conferência do clima em Paris terminasse sem acordo.

Francisco pediu aos jovens africanos que contribuam para "uma sociedade mais justa, inclusiva e respeitosa da dignidade humana"
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Francisco pediu aos jovens africanos que contribuam para "uma sociedade mais justa, inclusiva e respeitadora da dignidade humana" Giuseppe Cacace/AFP
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O diálogo entre religiões “não é um luxo, algo extra ou opcional, mas sim algo essencial”, afirmou o Papa no segundo dia da visita a África, que depois do Quénia o levará ao Uganda, países visados pelo extremismo islâmico, e à República Centro-Africana, onde a violência sectária provocou milhares de mortos nos últimos anos.

Antes do primeiro banho de multidão desta viagem, numa missa campal em Nairobi a que acorreram dezenas de milhares de pessoas, o Papa participou num encontro com representantes de várias religiões, a quem pediu que sejam “profetas da paz”, num mundo minado pelo ódio e a violência. Com o cristianismo e o islamismo em rápida expansão no continente – um estudo da Pew Research Center on Religion prevê que em 2050 ambas as religiões tenham duplicado o número de crentes que tinham em 2010 –, multiplicam-se os focos de tensão, que em muitos países se sobrepõem a rivalidades étnicas e tribais antigas. A importância da convivência pacífica entre religiões é, por isso, um dos temas que o Papa irá repetir nas três etapas do périplo, a sua estreia em solo africano.

O Papa evocou também os ataques reivindicados pelos extremistas somalis das Al-Shabbab nos últimos três anos no Quénia, que fizeram centenas de mortos e alimentaram ressentimentos contra a minoria muçulmana. “O nome de Deus não pode ser usado para justificar o ódio e a violência”, afirmou, lamentando que tantos jovens estejam a ser “radicalizados em nome da religião para semear a discórdia e o medo”.

Francisco dirigiu-se em seguida para o campus da universidade de Nairobi, onde milhares de fiéis o aguardavam sob uma chuva copiosa, depois de enfrentarem a lama e a apertada segurança que rodeia toda a visita do Papa a África. Na homilia, Francisco pediu aos quenianos que “resistam às práticas que fomentam a arrogância dos homens”, numa referência à corrupção e à ganância que marcam a sociedade actual, mas também “as práticas que ferem e desprezam as mulheres, que não cuidam dos mais velhos e ameaçam a vida dos inocentes por nascer”, acrescentou numa condenação do aborto. “A saúde de toda a sociedade depende sempre da saúde das famílias”, afirmou, semanas depois de ter presidido ao Sínodo da Família, em que os bispos africanos foram uma das vozes do conservadorismo, criticando o relativismo das sociedades ocidentais.

A dias do início da conferência do clima em Paris, o líder da Igreja católica foi ainda à sede das agências da ONU para o ambiente (PNUA) e habitat (ONU-Habitat), em Nairobi, sublinhar que seria “catastrófico” se os líderes mundiais não chegassem a um “acordo global e transformador” para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, deixando “que os interesses particulares se sobrepusessem ao bem comum”. Este acordo deve abrir caminho à concretização “de três objectivos, complexos e interdependentes: a redução do impacto das alterações climáticas, a luta contra a pobreza e o respeito pela dignidade humana”, afirmou Francisco, que na Primavera publicou uma encíclica em que apela ao uso responsável dos recursos do planeta, para proteger o meio-ambiente e combater o fosso entre os países ricos e pobres.

No mesmo registo, o Papa denunciou a “liberalização desigual das trocas comerciais” que travam o progresso das nações mais pobres e pediu a mobilização internacional contra os tráficos ilegais que sangram o continente africano. “O comércio ilegal de diamantes, pedras preciosas, metais raros ou de valor estratégico, de madeiras e tantos produtos de origem animal como o marfim alimentam a instabilidade política, o crime organizado e o terrorismo”, denunciou.

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