Papa culpa os sistemas “económicos perversos” pela pobreza na América Latina

Francisco falou da família e pediu aceitação daquele que “pareça impuro”. Ponto central voltou a ser a injustiça social na região.

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O Papa celebrou pela primeira vez uma missa no Equador, ainda na primeira metade da sua viagem pela América Latina Alessandro Bianchi / Reuters

No seu terceiro dia no Equador, e ainda com uma viagem de cinco dias pela América Latina por diante, o Papa Francisco lançou-se novamente no tema da injustiça social, para ele “a questão moral fundamental na América Latina”, e apontou culpados.

“Pela primeira vez na História, a pobreza e a miséria no nosso continente não são consequências da falta de recursos, mas dos sistemas sociais e económicos perversos”, disse Francisco, natural da Argentina, diante uma multidão de centenas de milhares de pessoas que assistiam à sua homilia, na cidade do Quito.

O Papa, que já antes classificou a ordem económica internacional como a “nova tirania”, recordou na sua primeira missa no Equador os 200 anos da independência do país. E apelou a que a população se unisse novamente pelos seus “ideais e até visões utópicas”. A “História diz-nos que o avanço só acontece com as diferenças pessoais de lado”, disse Francisco, com figuras tradicionais desenhadas no seu traje papal.

O tema da homilia desta terça-feira foi a família. E, apesar de Francisco ter reforçado a ideia de que a maior “dívida do Estado” à família é a justiça social, incluiu no seu discurso também vários apelos à igualdade, que estão agora a ser interpretados como uma menção velada à aceitação de famílias não tradicionais no seio da Igreja.

“Convido-vos a intensificar a vossa oração para que mesmo aquele que nos pareça impuro, nos escandalize ou espante, Deus o possa transformar em milagre”, afirmou Bergoglio.

De acordo com o diário espanhol El País, esta menção não é coincidência. O Sínodo sobre a família no Vaticano está agendado para Outubro. Espera-se que, nessa ocasião, as reformas sugeridas por Francisco no tema da aceitação das famílias não tradicionais voltem a embater numa “rejeição firme, ainda que subterrânea, dos sectores mais conservadores da igreja”, como escreve o jornal espanhol.

Francisco viaja na quarta-feira para a Bolívia, a segunda paragem na visita à América Latina, e, depois, para o Paraguai. 

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