Papa canoniza 800 mártires e três santos

Antonio Primaldo, Madre Laura e Madre Lupita sobem aos altares da Igreja Católica.

Francisco beija as relíquias de Maria Guadalupe Garcia Zavala
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Francisco beija as relíquias de Maria Guadalupe Garcia Zavala AFP
Francisco beija as relíquias de Laura Montoya Upegui
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Francisco beija as relíquias de Laura Montoya Upegui AFP
Francisco beija as relíquias de Antonio Primaldo
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Francisco beija as relíquias de Antonio Primaldo AFP
Na colômbia os crentes celebraram a canonização
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Na colômbia os crentes celebraram a canonização AFP
Na Praça de São Pedro gravam-se imagens da celebração
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Na Praça de São Pedro gravam-se imagens da celebração AFP
Festejos na Praça de São Pedro
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Festejos na Praça de São Pedro Reuters

O Papa canonizou, este domingo de manhã, os três primeiros santos do seu pontificado. Antonio Primaldo, um sapateiro do séc. XV; Laura de Santa Caterina de Siena Montoya, de origem colombiana e fundadora das Missionárias de Maria Imaculada e Santa Catarina de Sena; e Maria Guadalupe Garcia Zavala, mexicana e fundadora das Servas de Santa Margarida Maria e dos Pobres, foram os escolhidos. Com eles foram também canonizados 800 mártires, mortos por se recusaram a converter ao islamismo em 1480.

As escolhas ainda não são de Francisco mas do seu antecessor. No mesmo dia em que Bento XVI anunciou que iria renunciar ao cargo, um pouco antes, divulgou os nomes e a data da canonização.

Francisco pediu, durante a cerimónia deste domingo, aos "numerosos cristãos" perseguidos no mundo a coragem para "responder ao mal com o bem".

Antonio Primaldo era um humilde sapateiro, originário de Otranto, no sul de Itália. Com 800 companheiros, no ano 1480 em Otranto, foi decapitado pelas tropas turcas, sob a ordem do comandante Gelik Achmet Pascia, por ter recusado converter-se ao Islão. Anunciada ainda pelo Papa João Paulo II, esta canonização poderá não ser muito bem vista pela mundo muçulmano, com o qual Francisco pretende manter boas relações.

O epísódio aconteceu a 13 de Agosto de 1480 quando o comandante turco ordenou que todos os homens com mais de 15 anos fossem conduzidos à sua presença. Então pediu-lhes para renunciarem à sua religião. Antonio Primaldo tomou a palavra e disse: "Consideramos Jesus Cristo o nosso Senhor e o verdadeiro Deus. Preferimos mil vezes morrer a renunciá-Lo e tornarmo-nos turcos". O comandante fez-lhe a vontade e todos foram decapitados. Em Junho de 1481, os corpos foram descobertos e sepultados na igreja local.

Desde 1485 que em Otranto se celebra em memória daqueles mártires e em 1539, o bispo local instruiu, pela primeira vez, um processo para recolher testemunhos sobre aquele episódio. Em 1771, o Papa Clemente XIV assinou um decreto reconhecendo a beatificação dos mártires. João Paulo II, o Papa que mais canonizações fez na história da Igreja Católica, fez uma peregrinação a Otranto pelo quinto centenário da morte dos mártires, em 1980.

Em 2011, a cura de uma religiosa que tinha um cancro em fase terminal foi o passo decisivo para o reconhecimento pela Congregação da Causa dos Santos; e Bento XVI, um ano depois, confirmava essa decisão. Foi a 11 de Fevereiro passado, que o Papa anunciou a cerimónia de canonização de Antonio Primaldo e dos seus companheiros para este domingo. O anúncio foi feito um pouco antes de o Papa informar que iria renunciar.

Madre Laura e Madre Lupita
"Enquanto nós veneramos os mártires de Otranto, peçamos a Deus para suportar os muitos cristãos que ainda sofrem violências e que lhes dê a coragem da fidelidade de responder ao mal com o bem", pediu o Papa perante dezenas de milhares de devotos de todo o mundo.

Francisco exortou ainda os missionários cristãos a irem evangelizar "nos lugares mais remotos", mas sempre “respeitando a cultura" local, sem "se oporem a ela”, à semelhança de Laura de Santa Caterina de Siena Montoya e Upeguila, a missionária colombiana hoje canonizada.

Laura de Santa Caterina de Siena Montoya é a primeira santa colombiana. Conhecida como Madre Laura foi beatificada em 2004. Nascida em 1874 e morta em 1949, esta "advogada" dos povos indígenas fundou em 1914 a congregação das Missionárias de Maria Imaculada e Santa Catarina de Sienna, conhecidas como "missionárias lauritas". Esta congregação está presente, com mais de mil elementos, em 21 países da América Latina, África e Europa.

O papa jesuíta salientou que Madre Laura foi "um instrumento de evangelização, primeiro como professora, depois como mãe espiritual dos nativos”. Ela “levou-lhes esperança, acolhendo-os com o amor que aprende de Deus e trouxe-os até Ele com uma eficácia pedagógica que respeitava as respectivas culturas e sem se opor a ela”, acrescentou.

A mexicana Maria Guadalupe Garcia Zavala ou Madre Lupita, nasceu em 1878 e morreu em 1963, atravessando os anos da revolução anti-clerical mexicana. Com o padre Cipriano Iniguez, fundou a congregação das Servas de Santa Margarida-Maria e dos Pobres, dedicada aos doentes nos hospitais. Considerada santa após a morte, "Madre Lupita" também foi beatificada em 2004.

Em dois meses de pontificado, Francisco insistiu, como os antecessores, na preservação da tradição católica, da qual faz parte a veneração dos santos. Sublinhou também a importância da piedade popular, numa preocupação de estar próximo da fé das pessoas simples.

Muito esperada é a possível canonização de João Paulo II. Algumas fontes afirmaram já que poderá acontecer a partir do outono, para assinalar o fim do "Ano da Fé". Bento XVI já tinha acelerado o processo de beatificação do papa polaco.

Em 27 anos de pontificado, João Paulo II canonizou 482 pessoas. Bento XVI canonizou 44 novos santos em oito anos de pontificado.

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