Panamá conta reparar a imagem com sucesso do novo canal

Gigantesco cargueiro chinês foi o primeiro a navegar pelo novo Canal do Panamá.

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Milhares de panamianos participaram na cerimónia, que foi preparada com pompa e circunstância REUTERS/Carlos Jasso
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o gigantesco Cosco Shipping Panama, de pavilhão chinês, foi o primeiro navio a utilizar o novo canal REUTERS/Carlos Jasso

O escândalo dos Panama Papers ainda queima, como se comprovou este domingo na inauguração do ambicioso projecto de expansão do Canal do Panamá. Dos mais de 70 chefes de Estado e de Governo convidados para participar na cerimónia que marcou a entrada em funcionamento da renovada infraestrutura, só uma dúzia aceitou marcar presença, com os analistas a explicar que os restantes preferiram manter-se, cautelosamente, a uma distância segura do território da sociedade de advogados Mossack Fonseca, de cujos arquivos saíram os ficheiros com a informação relativa ao recurso a offshores para fuga ao fisco ou lavagem de dinheiro.

Milhares de panamianos participaram na cerimónia, que foi preparada com pompa e circunstância para melhorar a reputação do país, seriamente afectada pelo escândalo financeiro revelado em Abril. “O canal, o seu desenvolvimento e a sua importância para o comércio global, são a verdadeira expressão do Panamá”, sublinhou o chefe da Autoridade do Canal do Panamá, evitando referir-se ao escândalo que leva o nome do país. “Infelizmente, a imagem [do Panamá] foi seriamente afectada, e as repercussões sentem-se no ambiente para fazer negócios, que inclui o uso do canal”, contrapôs à Reuters o analista panamiano Ernest Bazan.

Apesar da ausência dos convidados com nomes mais sonantes, como o Presidente dos EUA, Barack Obama, ou o Presidente da China, Xi Jinping, o ministro dos Negócios Estrangeiros garantiu que todos os países enviaram representantes e considerou o evento um “sucesso diplomático”, atendendo ao número de líderes internacionais presentes. Mas vários comentadores notavam que os países enviaram para a cerimónia figuras de segunda linha – por exemplo, a delegação dos Estados Unidos, que controlou o canal até 1999 e é o seu principal utilizador, foi chefiada por Jill Biden, a mulher do vice-presidente.

Orçado em mais de cinco mil milhões de dólares, o projecto que torna a via navegável pelos maiores navios cargueiros do mundo envolveu a construção de novas eclusas e ainda a drenagem e alargamento do canal, que ficou mais largo e mais profundo. Originalmente inaugurada em 1914, a infra-estrutura já tinha sido alargada por duas vezes: a nova expansão permite não só duplicar a capacidade (para 600 milhões de toneladas de mercadorias por ano) como reafirmar a relevância desta rota comercial. “Este é um grande dia para o Panamá mas também para o resto do mundo: o nosso canal é um símbolo de unidade”, declarou o Presidente do Panamá, Juan Carlos Varela.

O primeiro navio a utilizar as novas eclusas e a precorrer o canal, do oceano Atlântico para o Pacífico, foi o gigantesco Cosco Shipping Panama, embarcação de pavilhão chinês com 300 metros de comprimento e 13 mil contentores. A China e os Estados Unidos são os utilizadores mais frequentes do canal, e deverão ser os maiores beneficiários do alargamento.

Com o novo Canal do Panamá, os navios de carga que transportam contentores, gás natural, carvão ou soja conseguem encurtar o seu trajecto entre os portos atlânticos e os mercados da Ásia em 16 dias. No entanto, as eclusas não permitem a passagem da última geração de petroleiros.

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