Palestinianos repudiam novo ministro da Defesa de Israel

Avigdor Lieberman alcança a segunda pasta mais importante no Governo. Diz que uma nova incursão em Gaza e a terceira guerra no Líbano são "inevitáveis".

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Netanyahu (à direita) dizia recentemente que Lieberman (esquerda) era "um homem perigoso que não pára por nada". MENAHEM KAHANA/AFP

A nomeação do nacionalista radical Avigdor Lieberman como novo ministro da Defesa de Israel foi recebida com duras críticas pela comunidade palestiniana, que acusa o Governo israelita de se estar a radicalizar e a colocar em perigo o futuro das negociações de paz. Lieberman oficializou esta quarta-feira um pacto de coligação com o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que alarga a sua ténue maioria parlamentar, mas entrega a segunda pasta mais importante no Governo a uma figura fracturante, odiada por palestinianos e árabes israelitas.

Netanyahu tornou-se com esta nomeação o líder do Governo mais próximo da extrema-direita na História do país. E a aliança entre partidos conservadores, religiosos e — agora — nacionalistas não agrada às organizações palestinianas. "Este Governo representa uma verdadeira ameaça de instabilidade e extremismo na região", afirmou à AFP o número dois da Organização de Libertação da Palestina, Saëb Erakat. A Autoridade Palestiniana disse estar céptica sobre as intenções do Governo de Netanyahu em resolver o conflito israelo-árabe e o Hamas, partido que governa a Faixa de Gaza, disse que a nomeação de Lieberman para a pasta da Defesa é a prova da "escalada no racismo e extremismo" do Governo. 

A decisão foi anunciada há uma semana e apanhou muitos de surpresa: Netanyahu parecia estar próximo de um acordo com os rivais de centro-esquerda que lhe permitiria alargar a sua maioria de apenas 60 deputados no Knesset e ao mesmo tempo agradar à comunidade internacional que teme que a sua coligação seja demasiado conservadora para tentar uma reaproximação à paz. Em vez disso, o primeiro-ministro aliou-se à extrema-direita de Lieberman, seu ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e com quem tem uma relação assumidamente tumultuosa — “odeia-me, vilipendia-me, é um homem perigoso que não pára por nada”, dizia recentemente Netanyahu sobre o seu novo ministro.

Lieberman diz-se favorável a uma solução de dois Estados, mas tem um longo historial de alienação de árabes. Vive num colonato israelita na Cisjordânia, defendeu derrubar a Autoridade Palestiniana e instaurar a pena de morte a terroristas; questionou várias vezes a lealdade dos árabes israelitas — que propôs que fossem transferidos para territórios palestinianos —, e há apenas dois meses defendeu o soldado que matou um palestiniano enquanto este estava ferido no chão. Segundo ele, uma nova incursão militar em Gaza e uma terceira guerra no Líbano são “inevitáveis”.

A ida de Lieberman para a Defesa provocou a demissão do homem que ocupava o cargo há apenas uma semana, o ex-general israelita Moshe Ya’alon, que defendia uma nova tentativa de negociações de paz e justificou a sua saída do Governo aludindo a uma divergência “moral e profissional” com Netanyahu. “É difícil imaginar um avanço nas negociações de paz no futuro imediato”, lia-se no editorial do New York Times de domingo, dia em que Ya’alon se demitiu. “Mas é inteiramente possível imaginar um recuo nas relações de Israel com a região e o resto do mundo com um ministro da Defesa que ameaçou, entre outras coisas, conquistar Gaza e bombardear a barragem de Assuão em caso de guerra com o Egipto.”

Esta quarta-feira, Netanyahu e Lieberman tentaram afastar receios de que o Governo se está a afastar de novas negociações de paz — isto apesar de ter recusado participar numa conferência internacional em Paris que tentará relançar os esforços de paz. “A minha agenda não se alterou”, disse Netanyahu, em inglês, numa conferência em que ambos assinaram o pacto de coligação. “Continuaremos a tentar qualquer caminho para a paz, enquanto garantimos a segurança dos nossos cidadãos.” 

A seu lado, Lieberman prometeu o mesmo. “Continuaremos a preservar a segurança dos israelitas, e vamos fazê-lo com determinação e sentido de responsabilidade”, disse.

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