Palavras no papel, palavras ao vento

John Kerry avisara na véspera, com alguma lucidez, que o “bom dia de trabalho” (seis horas de discussões) entre os representantes da política externa dos Estados Unidos, da União Europeia e da Rússia “resultou apenas em palavras num papel”. Ou seja, o que ali foi acordado e assinado precisava de ser levado à prática. E foi? Não, pelo contrário. Nenhum dos rebeldes separatistas que ocupam edifícios oficiais no Leste da Ucrânia arredou do seu posto, mostrando até vontade de ali continuar; no terreno, as vozes que se exacerbam são mais do que as que apelam à diplomacia (Iulia Timochenko veio até defender brigadas de voluntários para resistir pelas armas a Moscovo); e, em lugar do prometido desanuviamento, o cenário mais evidente é o de uma guerra civil. Basta seguir as palavras que Putin deixou, não no papel mas ao vento (falou ao ar livre, em Sebastopol): espera “não ser obrigado” a enviar tropas. Seria preciso dizer mais?

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