Palácio de Berlim sem financiamento para a fachada

Falta de investimento privado está a pôr em causa a finalização do Palácio da Cidade, um edifício que se pode ficar por um volume de cimento se não houver verbas para a fachada barroca.

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O antigo Palácio da República quando foi destruído Michael Kappeler/AFP

Depois do enorme atraso no aeroporto de Berlim-Brandeburgo, mais um projecto multimilionário e emblemático para a cidade está a correr muito mal. Trata-se do Palácio da Cidade, que está a ser construído onde já esteve o parlamento da ex-RDA (República Democrática Alemã) e onde antes esteve um palácio prussiano. A ideia era ter um palácio neobarroco, mais parecido com o primeiro palácio que esteve no local. Mas os promotores do projecto contaram com um grau de financiamento privado que não existiu, e para piorar, a cidade de Berlim começa a considerar retirar-se do projecto.

A ideia da reconstrução de um palácio prussiano após a demolição do Palácio da República da Alemanha de Leste sempre provocou oposição. Mais agora: numa sondagem recente, 65% dos alemães diziam estar contra o Palácio.

Mas é demasiado tarde para recuar: 100 mil metros cúbicos de cimento já estão no lugar a dar forma à estrutura do edifício.

Segundo a imprensa alemã, falta muito dinheiro para que o exterior seja construído: são precisos 80 milhões de euros para a fachada e apenas foram conseguidos 15,7 milhões. Também faltam verbas para a cúpula, portais interiores e para o restaurante no último piso: dos 28,5 milhões necessários apenas foram recolhidos 8,6 milhões.

O que se espera? “No final, estes milhões prometidos para a fachada podem ser silenciosamente pagos pelos contribuintes”, diz a revista Stern. “Um escândalo.”

Mas o Governo federal já garantiu que não vai cobrir os custos: “Não vai haver nem mais um cêntimo do Estado do que os 478 milhões já acordados” (só a estrutura custou 590 milhões de euros), disse Sven-Christian Kindler, da comissão do Orçamento do Parlamento alemão, à revista Der Spiegel. Os contribuintes não devem ser chamados a pagar “elementos de luxo e a fachada cara deste projecto de prestígio dúbio”.

Enquanto todo o projecto parece descarrilar, a cidade-estado de Berlim, que participava numa parte deste edifício, está a considerar desistir de lá ter a sua biblioteca. O presidente da câmara, Klaus Wowereit, admitiu na semana passada que esta possibilidade está em cima da mesa.

O Palácio da Cidade deveria ser um centro cultural e de arte, e albergar uma série de instituições diferentes, de colecções museológicas à biblioteca principal da cidade, a Universidade Humbolt, e outras ainda não definidas.

Mas o edifício já foi projectado tendo em conta a transferência da biblioteca de Berlim, prevendo salas de leitura e video. Mudanças durante a construção fariam descarrilar ainda mais as contas, já inflacionadas por um aumento do IVA que deixou o projecto bem mais caro.

A organização responsável pelo projecto, a Fundação Fórum Humbolt – Palácio de Berlim tenta apresentar uma disposição optimista face às dificuldades, diz a Spiegel. A esperança é que uma campanha prevista para uma cerimónia que se fará em Junho quando a estrutura estiver completa, consiga convencer investidores privados a entrar com a verba que falta.

Mas este arrisca-se já a ser mais um caso de mau planeamento somando-se a vários escândalos – o do aeroporto de Berlim, que depois de atrasos e atrasos ainda não tem sequer data de entrada em funcionamento, e que acabou com a ambição política do presidente da câmara Klaus Wowereit, ou ainda da estação ferroviária Estugarda XXI, ou da sala de concertos do Elba, em Hamburgo, ambos marcados por atrasos e derrapagem de custos.

À beira do rio Spree, na Ilha dos Museus, ergue-se agora a estrutura de cimento. Uma nova vista pouco elegante, cuja transformação ninguém parece querer pagar.

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