Pai de indiana violada divulga nome da filha para que sirva de exemplo

Jyoti Singh Pandey. É este o nome que a Índia não vai esquecer como símbolo da luta contra a violência sexual e a impunidade.

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Número de violações na Índia é gigantesco Sam PANTHAKY/AFP
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Manifestação de apoio no Sri Lanka Ishara S. KODIKARA/AFP
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Manifestantes pedem a pena de morte dos autores da violação Sam PANTHAKY/AFP
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Protesto em Nova Deli a 29 de Dezembro SAJJAD HUSSAIN/AFP
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Manifestação a 30 de Dezembro, após o funeral da vítima RAVEENDRAN/AFP
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Homenagem numa escola em Nova Deli Amit Dave/Reuters

O pai de uma mulher de 23 anos, indiana, vítima num caso de violação que concentra atenções mundiais, faz questão de divulgar a identidade da filha. A vítima morreu num hospital em Singapura, duas semanas depois de ter sido violada num autocarro em Nova Deli.

Numa entrevista publicada neste domingo, pelo jornal britânico Sunday People, o homem diz: “Queremos que o mundo saiba o seu nome.”

“A minha filha não fez nada de mal, ela morreu por se ter tentado proteger”, prossegue. “Estou orgulhoso dela. Revelar o seu nome dará coragem a outras mulheres que tenham sobrevivido a este tipo de ataques. Elas encontrarão forças na minha filha.”

A legislação indiana proíbe, regra geral, a identificação de vítimas de crimes sexuais, afirma a agência Reuters.

O jornal mostra na edição online uma fotografia do pai, Badri Singh Pandey, de 53 anos, e refere que a vítima é Jyoti Singh Pandey. A família deixou Nova Deli, onde o ataque ocorreu, e rumou para uma cidade no Norte do país, Billia. Foi lá que, segundo o jornal, o pai foi entrevistado. A mãe da vítima, em estado de choque, não conseguiu falar com os jornalistas.

“Primeiro, queria estar cara a cara com os responsáveis [por este crime]. Mas agora já não quero. Só quero ouvir o tribunal a condená-los à forca”, diz Badri, que trabalha no aeroporto de Nova Deli e recorda a preocupação que a família sentiu no dia em que tudo aconteceu. A 16 de Dezembro, Jyoti, estudante de Medicina, tardava em chegar a casa.

“Começámos por telefonar-lhe para o telemóvel dela e para o de um amigo, mas ninguém atendia. Depois, às 23h15 recebemos uma chamada do hospital em Nova Deli dizendo que a minha filha tinha estado envolvida num acidente”.

Só mais tarde lhe explicaram o que realmente tinha acontecido a bordo do autocarro em que a filha e um amigo tinham embarcado. Violada e espancada por seis homens, Jyoti lutou pela vida durante duas semanas no hospital. Nesse tempo, milhares de pessoas saíram às ruas para se manifestarem num país onde os crimes sexuais ainda são tabu e onde os casos que chegam a tribunal demoram vários anos a serem julgados. Também houve manifestações noutros países a propósito deste caso

No dia do seu funeral, foi homenageada na rua. “Este incidente deve abrir-nos os olhos para a necessidade de educarmos os nossos filhos de outra maneira, de educar as pessoas de outra maneira”, disse à BBC um manifestante, enquanto outros cartazes pediam “Salvem as mulheres, salvem a Índia”. O Governo prometeu o reforço da segurança nas ruas e penas mais pesadas para os crimes sexuais.    

Entre as principais cidades, Nova Deli tem o maior número de crimes sexuais, com uma violação, em média, a cada 18 horas, de acordo com dados da polícia. Os dados do Governo mostram que o número de casos aumentou quase 17% entre 2007 e 2011.

A pena máxima para a acusação de homicídio é a morte. Mas a maioria dos crimes sexuais na Índia nem sequer são denunciados e, quando o são, raramente são punidos. A justiça move-se muito lentamente, acusam activistas citados pela Reuters, que dizem que os governos pouco têm feito para garantir a segurança das mulheres indianas no seu próprio país.

Os seis suspeitos foram formalmente acusados e arriscam a pena de morte. Há quem fale numa cultura de violação na Índia. Há 2500 advogados que recusaram defender os acusados. Um membro do Governo pediu a divulgação do nome da vítima, que foi abandonada numa berma de estrada, depois de ter sido violentada durante hora e meia. O pai dela fez agora a vontade ao ministro e a todos os que entenderam que o nome da vítima deveria ser divulgado.

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