Ouro, imigração e benefícios fiscais alvo de referendos na Suíça destinados a um "não"

A multiplicação de referendos no país está a começar a tornar-se motivo de preocupação.

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A iniciativa “Salvem o nosso ouro” propõe que a Suíça aumente as suas reservas de ouro de 7% para 20% Ruben Sprich/REUTERS

Os suíços realizam no domingo mais três referendos, iniciativas de grupos da sociedade civil que pretendem alterar leis ou propor outras. As sondagens dizem que o “não” vencerá em todos — um sobre limites à imigração, um para aumentar as reservas de ouro e outro para retirar benefícios fiscais aos milionários estrangeiros. Mas a ocasião serviu sobretudo para voltar a debater esta forma de participação pública, com alguns sectores a considerarem que há demasiadas consultas populares

Nos últimos anos, o número de referendos multiplicou-se no país e houve até uma consulta sobre minaretes, que provocou a revolta da população muçulmana (5%) e críticas internacionais. “A Constituição está a tornar-se um brinquedo para os exibicionistas da política”, disse um autarca da cidade de Uster, perto de Zurique, Richard Saegesser, citado pela Bloomberg. Considera que está a haver um abuso dos privilégios democráticos, sobretudo por parte de grupos com posições mais radicais.

Um excesso foi como foi classificado pelo Governo, pelos empresários, pelos partidos — inclusive pelo da direita populista, o UDC, que em Fevereiro promoveu um referendo sobre controlo de entrada de imigrantes —, pelos sindicatos e por muitos eleitores a proposta do grupo Ecopop (ecologia e população). A sua proposta, em votação neste sábado, é limitar a entrada anual de estrangeiros na Suíça a 0,2% do total da população, ou seja 16 mil pessoas.

Trata-se de uma iniciativa ecológica, não racista ou xenófoba, esclareceu o Ecopop, um grupo não político. “Neste momento, estamos a encher a paisagem de cimento ao ritmo de 1,1 metros quadrados por segundo. Se não fizermos nada, em 2050 seremos só cimento”, disse à AFP Anita Messerre, do Ecopop. “Isto é uma questão de alteridade, todos poluímos por igual, não depende da nossa nacionalidade, mas depende do nosso nível de vida”, esclareceu, não respondendo às críticas que dizem que uma medida destas irá comprometer sectores da economia que são sustentados pelo trabalho dos imigrantes.

Os partidários do “sim” são minoritários, segundo as sondagens, que dizem que 39% dos eleitores devem votar “sim” mas 56% “não”.

A AFP ouviu partidários do “sim”, que não falam de ecologia mas sim de nível de vida, sugerindo que a imigração afectou os rendimentos dos suíços: “Já não temos a prosperidade que tivemos no passado”, disse Magrit Pfister, que trabalha em Berna com imigrantes, para quem é intérprete, e que diz estar nostálgica do tempo em que um pai de seis filhos podia criá-los apenas com o sue salário.

A iniciativa “Salvem o nosso ouro” propõe que a Suíça aumente as suas reservas de ouro de 7% para 20%. O que, argumenta o Governo, que é contra a medida, tornaria difícil manter a estabilidade do franco suíço perante as outras moedas, além de que poderia alterar o preço do ouro no mercado internacional, uma vez que levaria a Suíça a, em cinco anos, comprar ouro no valor de 73 mil milhões de dólares (ao preço actual).

Também este ponto deverá ser chumbado pela população, assim como “não” deve ser a resposta da maioria à proposta de acabar com as vantagens fiscais dos milionários estrangeiros. É a primeira vez que esta pergunta — proposta por grupos de esquerda — é feita a nível federal. Os benefícios dizem respeito a 5729 milionários estrangeiros que preferem pagar mil milhões de francos suíços de impostos (830 milhões de euros) na Suíça do que enfrentar os mais delapidadores fiscos dos seus países.     

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