Os muros da Europa

Um muro na Hungria, as vedações em Calais, um mar outrora rota de cultura e símbolo de progresso transformado em cemitério dos mais pobres entre os pobres do planeta. É a Europa-fortaleza em construção, não tanto por soberba ou xenofobia — que também abundam —, mas sobretudo sinal da fragilidade política, económica e social deste espaço comunitário cada vez mais distante do modelo que os pais fundadores para ele sonharam. Os milhares de imigrantes que se amontoam às suas portas, dispostos a morrer por uma migalha do bem-estar que entrevêem à distância, são o outro lado do espelho onde jaz a falta de solidariedade entre os próprios povos europeus. Indiferentes aos perigos, todos os dias morrem eritreus, sudaneses, sírios, iraquianos, etíopes, afegãos, homens, mulheres e crianças fugidos da guerra, das perseguições e da fome, cegos pela certeza que o amanhã será sempre melhor que ontem. No presente, como se tem visto, a Europa não tem soluções para eles. Apenas muros, vedações e um mar cheio de cadáveres.

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