"Os mais corajosos" foram os que não sobreviveram

Equipas de resgate já recuperaram 150 vítimas do naufrágio do ferry sul-coreano

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Memorial para as vítimas do naufrágio KIM DOO-HO/AFP

Eun-su Choi, motorista de camiões, foi um dos 174 sobreviventes do desastre que abalou a Coreia do Sul após o naufrágio de um ferry que transportava 476 passageiros, na maioria jovens, com destino à ilha turística Jeju, costa sudoeste da Coreia do Sul. Numa entrevista à BBC relatou os momentos terríveis que presenciou durante a tragédia. "Eu estava agarrado a um corrimão e tentei salvar alguns dos alunos no refeitório enquanto eles corriam para baixo das mesas”. O número de mortes confirmadas já chegou a 150 enquanto 152 pessoas ainda estão desaparecidas.

Dos 476 passageiros e tripulantes a bordo, 339 eram jovens. Uma menina de seis anos de idade foi salva por um amigo de Eun-su Choi depois de ter sido passada de mão em mão pelos seus pais e outros passageiros. Todos os náufragos que o motorista de camiões viu a ajudarem esta menina foram engolidos pela água. “Os mais corajosos de todos” não conseguiram sobreviver, acrescentou.

Choi afirmou que teve que tomar uma traumatizante decisão da qual agora diz estar extremamente “arrependido”. Quando a embarcação se afundava decidiu salvar-se a si próprio em vez de continuar a resgatar os alunos. “Nós estávamos a tentar puxá-los para cima com uma mangueira de incêndio mas era mesmo muito difícil e por isso decidimos subir”.

A primeira chamada de socorro, segundo a agência Reuters, foi feita a partir de o telemóvel de um jovem. Os recentes relatórios sugerem que os passageiros, na maioria jovens, foram orientados a fim de permaneceram dentro das cabines e dos seus quartos. A maioria dos corpos dos jovens encontrados nos últimos dois dias tinham os dedos partidos, presumivelmente porque as vítimas estavam desesperadamente a tentar escalar as paredes para escapar aos agoniantes últimos momentos de vida. " Somos treinados para ambientes hostis, mas é difícil ser corajoso quando encontramos corpos na água escura", disse o mergulhador destacado para as missões de resgate, Hwang Dae –sik.

Os pêsames do inimigo do Norte

Esta tragédia levou a um raro momento de solidariedade por parte da vizinha Coreia do Norte, que apesar de estar tecnicamente em guerra com o Sul desde o fim do conflito de 1950-1953, enviou uma mensagem ao Ministério da Unificação sul coreano. “ Expressamos as mais sentidas condolências para com os desaparecidos e as mortes destes jovens estudantes”, refere um comunicado de Pyongyang.

As autoridades sul-coreanas prenderam esta quarta-feira mais quatro elementos da tripulação elevando o número total de detidos para 11. Entre os detidos, encontra-se o capitão da embarcação, Lee Joon-Seok, acusado de negligência por ter sido incapaz de garantir a segurança dos passageiros mas também por ter feito uma "mudança excessiva de curso sem abrandar”. Dos 29 membros da tripulação, dois terços conseguiram sobreviver.

Também esta quarta- feira, investigadores do naufrágio fizeram buscas a várias empresas relacionadas com transportes, entre as quais a empresa proprietária do ferry que naufragou, a Chonghaejin Marine Company.

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