Oposição venezuelana unida no apoio a autarca detido

Partidos da oposição assinaram carta de apelo a uma “transição nacional” que tinha sido subscrita pelo autarca de Caracas e que o conduziu à prisão.

Foto
Apoiantes de Ledezma em protesto frente à embaixada venezuelana em Lima, Peru Enrique Castro-Mendivil / Reuters

Antonio Ledezma, o presidente da câmara metropolitana de Caracas, foi detido na semana passada depois de ser um dos três signatários de uma carta aberta que o Presidente, Nicolás Maduro, qualificou como um apelo ao derrube do seu Governo. Agora, a oposição ao regime chavista decidiu juntar-se e assinou o documento, numa clara tentativa de reunir um consenso alargado contra Maduro.

O partido social-democrata Copei quis prestar solidariedade e decidiu subscrever o “Apelo aos venezuelanos para um acordo de transição nacional”, uma carta aberta publicada no jornal El Universal. O documento defende a necessidade de um compromisso amplo pela sociedade civil com o fim de “recuperar o espírito e a ordem democrática”. Na madrugada de segunda-feira, a sede do partido em Caracas foi invadida por um grupo de pessoas, com o apoio da polícia.

Para além de Ledezma, a carta foi assinada inicialmente por Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular, e pela deputada María Corina Machado, a única signatária que não está atrás das grades. López foi detido há cerca de um ano durante os violentos protestos que provocaram a morte de 43 pessoas e Corina Machado também foi acusada de traição e conspiração para derrubar Maduro – assim que a imunidade parlamentar lhe for retirada, deverá ser julgada.

A detenção de Ledezma veio dar um tónico à oposição venezuelana, vista tradicionalmente como desunida e ineficaz. Numa conferência de imprensa esta segunda-feira, o secretário do partido Acção Democrática, Henry Ramos Allup, rejeitou as acusações feitas por Maduro quanto aos intentos da carta. “Esse documento em nenhuma das suas letras tem qualquer insinuação próxima sequer de um golpe de Estado”, afirmou. Ao seu lado estavam Corina Machado e o deputado do partido Justiça Primeiro Julio Borges, acusado pelo sector “oficialista” de estar implicado na conspiração contra o Governo.

Em apoio a Ledezma vieram também vários autarcas do país, incluindo a própria Associação de Alcaides da Venezuela. Calcula-se que mais de metade dos autarcas da oposição tenha algum caso contra si nos tribunais venezuelanos, segundo o El País. Também a Rede Mundial de Cidades e Governos Locais e Regionais, em conjunto com outros municípios sul-americanos, apelou às autoridades judiciais venezuelanas para que sejam respeitados os direitos do autarca.

Ledezma era considerado um veterano da oposição venezuelana, mas “estava longe de ter o papel de liderança que o seu posto lhe deveria garantir”, escreve a revista Foreign Policy. O autarca situa-se numa corrente da oposição denominada “La Salida” (A Saída), conotada com franjas mais radicais.

Os protestos do ano passado catapultaram Leopoldo López para a ribalta do movimento oposicionista, que partilha com Henrique Capriles, que em Abril de 2013 esteve perto de derrotar Maduro nas primeiras eleições presidenciais após a morte de Hugo Chávez.

É nestes dois líderes que se corporiza a grande divisão no seio do movimento oposicionista. Numa entrevista em Agosto ao Wall Street Journal, Capriles lamentava as clivagens que dizia darem “oxigénio ao Governo” e “distraírem o país”. Algumas semanas antes, a liderança da mesa de Unidade Democrática – a plataforma ampla que pretende reunir os partidos de oposição – tinha apresentado a demissão num ambiente de contestação interna.

O próprio Ledezma vê agora na sua situação uma possibilidade de alcançar uma unidade que possa capitalizar com o descontentamento em relação a Maduro e lançou um apelo a partir da prisão militar de Ramo Verde: “Peço aos companheiros e companheiras da Unidade que não deixemos que este regime nos divida.”

Sugerir correcção
Ler 5 comentários