Oposição bloqueia acto eleitoral na Tailândia

Lider da oposição foi abatido a tiro. Milhares de tailandeses foram impedidos de votar por manifestantes que bloquearam o acesso às mesas de voto.

Manifestantes contra o Governo bloquearam o acesso às mesas de voto em Banguecoque e no Sul do país, numa campanha para expulsar o actual regime da primeira-ministra Yingluck Shinawatra do poder. Um dos líderes do movimento de oposição, que se autodenomina Comité Popular para Reforma Democrática, foi morto por um atirador não identificado e 11 pessoas ficaram feridas, de acordo com o serviço de emergência médica.

O líder, Sutin Tharatin, estava a falar em cima de um camião à entrada de um local de voto na periferia da capital tailandesa quando foi atingido por tiros na cabeça e no peito.

Este era um dia de votação antecipada para os mais de dois milhões de eleitores - do total de 49 milhões - que não podem votar nas eleições legislativas do próximo domingo, 2 de Fevereiro, mas os protestos e a obstrução dos manifestantes levaram a Comissão de Eleições a cancelar o sufrágio em muitos locais de voto.

Em Banguecoque, onde o movimento de oposição goza de popularidade junto das classes média e alta, todas as mesas de voto, num total de 50, foram encerradas pelos activistas antes da hora de fecho das urnas, às 15h. Mas os eleitores puderam votar sem grandes obstáculos nas regiões mais populosas do país, no Norte e Nordeste – uma demonstração das divisões políticas que actualmente consomem a Tailândia e que, grosso modo, opõem um Norte rural, pró-Governo, a uma elite urbana apoiada pelo Sul.

O bloqueio dos locais de voto foi levado a cabo por bandos de activistas, por vezes compostos por meras dezenas de pessoas, que trancaram as portas e intimidaram representantes das mesas de voto e eleitores, segundo o New York Times. A sua capacidade para perturbar o processo eleitoral vem sublinhar a fraqueza do Governo tailandês, que tem sido contestado com protestos de rua nos últimos dois meses.

A polícia não tomou qualquer medida para dispersar os manifestantes, seguindo ordens do Governo que parecem ter sido ditadas para evitar o tipo de violência que pode provocar um golpe militar.

Uma acção "anti-democrática"

Críticos do movimento de contestação consideram o bloqueio da votação de domingo antidemocrático. “Este foi o dia em que a Tailândia e o resto do mundo viram o verdadeiro rosto do movimento”, disse Sunai Phasuk, um investigador na Tailândia associado à Human Rights Watch, citado pelo New York Times. “Estão a usar o vandalismo para perturbar o processo de votação. Não se pode combater a corrupção parando a democracia.”

"Estou aqui para impedir as pessoas de votar", disse à AFP Amornchock, um manifestante de 64 anos que estava a bloquear uma mesa de voto na capital, mais umas 2500 pessoas. "Não sou contra a democracia, não sou contra as eleições, mas estas devem ser justas", afirmou.

Nalguns casos o bloqueio criou confrontos tensos entre manifestantes e eleitores que queriam votar. “Sou uma pessoa bastante tolerante”, disse ao New York Times um gestor de recursos humanos numa empresa tailandesa que tentou votar no domingo, mas não conseguiu. “Mas isto é muito injusto. Eles violaram os meus direitos políticos.”

Para os analistas mais imparciais, não há inocentes na luta de poder entre o partido que está no Governo e os seus opositores. Os manifestantes acusam o Executivo de Yingluck Shinawatra de estar sob a influência do seu irmão bilionário Thaksin Shinawatra, um ex-primeiro-ministro que foi afastado num golpe militar em 2006.

Yingluck e o irmão conquistaram a lealdade de milhões  de tailandeses depois de criarem um sistema universal de saúde e de tornarem os organismos públicos mais eficientes e capazes de dar resposta às necessidades dos cidadaõs. Mas a oposição acusa-os de usarem a fortuna da família e fundos públicos para influenciarem o eleitorado e elevarem os níveis de corrupção no país.

Por sua vez, a oposição é liderada por um anterior vice-primeiro ministro e político de carreira, Suthep Thaugsuban, que durante a sua estadia no poder se viu envolvido em numerosos escândalos. O Governo diz que Suthep e os seus aliados do Partido Democrata estão a tentar tomar o poder à força porque não conseguem ganhar eleições.

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