Oposição aperta o cerco a Sharif nas ruas de Islmabad

Invasão da sede da televisão pública no terceiro dia de violência na capital paquistanesa.

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Apoiante de Tahir Ul-Qadri junto ao aparato polícial que rodeia a casa do primeiro-ministro Nawaz Sharif Zohra Bensemra/reuters

O movimento de oposição ao primeiro-ministro paquistanês subiu a um novo patamar na contestação esta segunda-feira, com uma invasão de manifestantes anti-governamentais da sede da televisão estatal PTV. Munidos com bastões, destruíram equipamentos e retiraram das paredes os retratos do chefe de governo, Nawaz Sharif, a quem exigem a demissão.

Soldados e unidades paramilitares do Ministério do Interior acabaram por conseguir retomar o controlo da sede da PTV e escoltar os manifestantes para fora do edifício, que ficou depois sob protecção das forças de segurança. As emissões, interrompidas durante a breve “invasão”, foram retomadas.

Os manifestantes são apoiantes de Imran Khan, antiga estrela de críquete que é hoje um político nacionalista, e de Tahir Ul-Qadri, um líder religioso que vive no Canadá e que gere uma popular rede de caridade no Paquistão. Desde 15 de Agosto que os opositores estão acampados no centro da capital Islamabad para exigir a demissão do primeiro-ministro, que acusam de fraude nas eleições legislativas de Maio de 2013.

As manifestações decorreram de forma pacífica até sábado à noite, quando Khan e Qadri apelaram aos seus apoiantes para se dirigirem para a residência de Sharif, situada perto do enclave diplomático onde estão situadas as principais embaixadas.

Perante o afluxo de milhares de manifestantes, a polícia recorreu ao gás lacrimogéneo e às balas de borracha para dispersar a multidão. Os confrontos entre polícia e manifestantes já provocaram pelo menos três mortos e quase 500 feridos, incluindo mulheres e crianças, segundo números dos serviços hospitalares citados pela AFP.

Num país com um longo historial de golpes de Estado, vários analistas suspeitam que Khan e Qadri estejam a ser “telecomandados” pelos militares para enfraquecer Sharif e criar uma situação de caos que obrigaria a uma intervenção musculada do exército

“Já não há quase nenhum cenário provável em que o primeiro-ministro possa sobreviver a esta crise”, considera Mosharraf Zaidi, um comentador político ouvido pela AFP.

O exército, explicam este e outros analistas, criticou fortemente a opção de Nawaz Sharif adiar a ofensiva militar contra os bastiões taliban no Waziristão do Norte no passado mês de Junho. Os militares também não vêem com bom-olhos a tentativa de reaproximação com a arqui-inimiga Índia e não digeriram a tentativa de julgamento de um dos seus, o general Pervez Musharraf, por “alta traição”, algo inédito na história do Paquistão.

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