ONU já voltou a ter dinheiro para alimentar sírios

Campanha de solidariedade online obteve 80 milhões de dólares em pouco tempo. Guterres anuncia que 100 mil dos refugiados mais vulneráveis poderão sair dos campos nos meses mais próximos.

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À espera que a comida chegue, com carrinhos de mão para a transportar, no campo de Zaatari, na Jordânia Muhammad Hamed/REUTERS

O programa das Nações Unidas que presta ajuda alimentar a 1,7 milhões de refugiados sírios foi restabelecido, porque a campanha lançada nas redes sociais a apelar à solidariedade individual para continuar a alimentar estas pessoas, quando o dinheiro se acabou, teve um enorme sucesso.

Faltavam 64 milhões de dólares (52 milhões de euros) para poder alimentar até ao fim de Dezembro os refugiados apoiados pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) que estão a viver nos campos de refugiados nos países vizinhos da Síria: Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egipto. Mas graças à campanha Cada Dólar Pode Fazer a Diferença, o PAM conseguiu 80 milhões de dólares rapidamente, muito acima das expectativas.

“Esta demonstração de apoio em tão pouco tempo é algo sem precedentes”, disse a directora executiva do PAM, Ertharin Cousin, citada num comunicado.

Esta agência da ONU tinha anunciado, a 1 de Dezembro, que era obrigada a interromper a distribuição de cupões, no valor de 30 dólares por cada elemento da família, por falta de dinheiro. Graças aos donativos de 14 mil pessoas e dadores privados de 158 países, pode agora retomar a distribuição destes vales.

Os maiores doadores foram americanos, seguidos de canadianos, e dos próprios sírios, diz o PAM. “Mas estamos especialmente gratos aos doadores individuais que nos deram aquilo que podiam dar para ajudar os refugiados sírios que perderam tudo. Mostraram que mesmo um dólar pode fazer a diferença”, afirmou Ertharin Cousin.

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, anunciou também nesta terça-feira que mais portas se devem abrir para os refugiados sírios nos próximos meses, permitindo que parte dos que são considerados mais vulneráveis possa abandonar os campos de refugiados nos cinco países mais próximos.

Assim, o número de autorizações de residência deve alcançar 100 mil durante os próximos tempos, graças aos compromissos feitos hoje por 28 países numa reunião em Genebra, anunciou Guterres. Nestes 100 mil incluem-se, no entanto, as mais de 62 mil autorizações de residência e respostas positivas a pedidos de asilo já concedidas.

As Nações Unidas estimam que mais de 10% dos 3,2 milhões de sírios que fugiram à guerra e estão nos campos de refugiados são pessoas altamente vulneráveis e que precisam de ser realojadas urgentemente – são sobreviventes de torturas, sozinhas, ou pessoas idosas, por exemplo. O objectivo é conseguir que 130 mil destas pessoas se instalem num país fora da região até 2016.

“A Síria tornou-se o principal desafio humanitário do nosso tempo, e é importante que o tipo de ofertas que vimos hoje continuem a chegar”, afirmou António Guterres, citado num comunicado de imprensa. “Dar refúgio a pessoas vulneráveis que fogem da guerra é salvar vidas, mas é também importante demonstrar solidariedade com os países da região que estão a abrigar 3,2 milhões de sírios.


A nova chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, anunciou entretanto que a União Europeia deverá destinar à Turquia 70 milhões de euros para apoiar a ajuda humanitária. Só a Turquia acolhe cerca de 40% dos quatro milhões de sírios que procuraram refúgio no estrangeiro ao fugirem da guerra no seu país.

Desde o início da guerra civil na Síria, em Março de 2011, a UE destinou 187,7 milhões de euros para os refugiados sírios na Turquia, diz a AFP. O Governo de Ancara diz ter gasto mais de 3200 milhões de euros a acolhê-los em campos.

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