Oito membros de uma missão de sensibilização para a transmissão do ébola mortos na Guiné-Conacri

Multidão pensou que as autoridades os iam matar. OMS diz que este incidente revela as dificuldades em educar as populações locais sobre o vírus, mas que é importante não desistir.

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cartaz para ensinar a reconhecer sintomas da infecção pelo vírus ébola na Costa do Marfim SIA KAMBOU/AFP

Oito responsáveis locais e jornalistas da região de Womey, na Guiné-Conacri, foram assassinados por uma multidão em fúria quando visitavam uma aldeia numa região remota daquele país para fazer uma campanha de sensibilização sobre a transmissão desta febre hemorrágica.

Os habitantes receberam a delegação com paus e pedras, pois pensavam que os iam matar “porque acham que o ébola é uma invenção dos brancos para matar os negros”, contou um sobrevivente do grupo, o tenente da polícia Richard Haba.

As vítimas foram o subprefeito de Womey, o director de saúde de N'Zérékoré, o director adjunto do hospital regional de N'Zérékoré, o director do centro de saúde de Womey, um padre, dois técnicos da rádio de N'Zérékoré e um jornalista de uma rádio privada. O filho de cinco anos do subprefeito, que também ia na viagem, foi descoberto no mato, escondido, revelou o ministro Damantang Albert, porta-voz do Governo, citado pela AFP. Ficaram ainda feridas 21 pessoas nesta missão, conduzida pelo governador de N'Zérékoré, que acabou tragicamente.

É a primeira vez desde o início da epidemia de ébola na África Ocidental que se dá uma atitude de hostilidade tão grave das populações contra representantes das autoridades. Mas pelo menos 55 pessoas ficaram feridas em N'Zérékoré no fim de Agosto quando foi imposto um recolher obrigatório, após confrontos entre manifestantes e a polícia.

Nessa altura, os comerciantes de um mercado protestaram violentamente contra a chegada de uma equipa que começou a pulverizar os produtos que tinham à venda sem os ter avisado previamente daquela operação, explica a AFP.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), sem desvalorizar o incidente, preferiu sublinhar as dificuldades em educar as populações locais sobre o vírus ébola, e como as autoridades merecem pouco a confiança dos habitantes, após anos de instabilidade de conflito. “Esta população, na zona de floresta da Guiné-Conacri, sofreu muito nos últimos 20 anos. Têm um comportamento pós-conflito, obviamente não confiam nos governos”, comentou o especialista da OMS Pierre Formenty, em Genebra, citado pela Reuters.

“Temos de investigar estes assassínios, mas isto não nos pode travar”, afirmou Formenty, que acaba de regressar da Libéria, outro dos países afectados pela doença que já matou pelo menos 2630 pessoas desde Março, e que corresponde a esta descrição.

A Serra Leoa, outro dos países afectados, iniciou esta sexta-feira um recolher obrigatório de três dias na capital, Freetown, para tentar controlar a epidemia. Há planos para cerca de 30 mil trabalhadores do sector de sáude e professores visitarem todas as casas do país, para ensinar aos habitantes como evitar a transmissão da doença e isolar os doentes para travar o contágio.

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