Obama tenta travar novas sanções contra o Irão

A desconfiança é profunda e antiga. As negociações são frescas e frágeis. A Casa Branca diz pela primeira vez o que pensa para pressionar o Senado.

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Sia 7 há nova reunião dos 5+1 Morteza Nikoubazl/Reuters

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tenta evitar que o Capitólio aprove novas sanções contra o Irão que destruiriam os progressos nas negociações sobre o nuclear. Na sexta-feira à noite, a sub-secretária de Estado, Wendy Sherman, defendeu isso mesmo publicamente.

“Pensamos que este é o momento de fazer uma pausa, para vermos se as negociações ganham velocidade”, disse Sherman à rádio Voz da América. Foi a primeira vez que a Administração Obama falou claramente sobre o futuro das sanções, ainda não pela voz do Presidente mas através da vice-responsável pela diplomacia.

Os analistas viram nas declarações de Sherman uma par de recados de Obama: aos iranianos, a comprometer-se com as negociações; aos legisladores, que se debatem entre aprovar ou não mais sanções.

O novo pacote de sanções está pronto e já foi aprovado, na Câmara de Representantes. Está, agora, nas mãos dos senadores. Alguns deles foram chamados na semana passada à Casa Branca onde Obama e os conselheiros presidenciais fizeram o ponto da situação das relações com o Irão, reabertas com grande cautela há escassas semanas depois de muitas décadas de inimizade.

O pacote de sanções em vigor actualmente contra o Irão data de 2011 e impede Teerão de vender a maior parte do seu petróleo (cortaram as exportações em mais de um milhão de barris por dia). As novas sanções aprovadas pelos congressistas aumentam essa restrição, impedindo que o Irão exporte praticamente toda a sua produção.

O que, disse à Reuters Resa Marashi, director da organização National Iranian American Council, afundará o pouco que ainda sobra da economia do país. As sanções arrastaram o Irão para uma grave crise económica (e social), e para a escassez de bens essenciais e de medicamentos.

Marashi viu um passo “muito positivo” na declaração de Wendy Sherman — agrada a Teerão, define que o compromisso com as negociações é a sério e pressiona quem tem que ser pressionado. “No capítulo das sanções, creio que é a declaração mais comprometida da Administração Obama dos últimos quatro ou cinco anos”, disse Marashi. “Foi muito específica. Este tipo de declarações públicas provam que há um grau de seriedade [no que se está a fazer]”.

“O Congresso tem as suas prerrogativas” — disse Sherman — e não o controlamos, mas estamos a manter contactos muito sérios e precisamos de uma abordagem construtiva para se chegar a uma decisão bem sucedida, e acredito que assim será”. Como Obama já tinha feito antes, disse que a Câmara dos Representantes e o Senado são “parceiros efectivos” da Casa Branca na questão das sanções.

As negociações sobre o programa nuclear do Irão — os EUA dizem que o programa de enriquecimento de urânio se destina a fins militares (a bomba atómica) e não civis, como argumenta Teerão — estão demasiado frescas e são demasiado frágeis. Na semana passada realizou-se a primeira reunião do chamado grupo 5+1 (EUA, Rússia, Reino Unido, França, Alemanha e Irão) depois da oferta de diálogo feita pelo novo Presidente iraniano Hassan Rouhani (tomou posse em Agosto).

O grupo considerou que o diálogo foi “muito positivo”, marcou nova reunião para 7 de Novembro, mas Teerão fez saber que precisa de acções concretas que provem a seriedade das negociações (aliviar as sanções); os EUA fizeram, é claro, a mesma declaração (o acesso dos inspectores da ONU às unidades de enriquecimento de urânio).

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