Obama pede à Europa que não volte a ser “complacente com a sua própria defesa”

O Presidente americano despediu-se da Alemanha com alertas sobre os perigos de uma comunidade europeia fragmentada e irrelevante. A UE, diz, está num "momento decisivo".

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Numa série de entrevistas à revista The Atlantic, o Presidente americano disse que a Europa era "oportunista" em matérias de segurança. Jim Watson/AFP

Barack Obama concluiu esta segunda-feira a sua viagem pela Europa com um discurso em que repetiu o apelo chave dos últimos dias, por uma comunidade europeia forte, democrática e próspera, mas em que sublinhou também a sua visão de uma União Europeia desleixada em matérias de segurança internacional. “Vou ser honesto: a Europa tem sido por vezes complacente com a sua própria defesa”, disse o Presidente norte-americano, em Hanôver, na Alemanha, horas antes de partir para Washington.

Obama pediu mais acção europeia na protecção contra ataques terroristas, como os conduzidos recentemente pelo grupo Estado Islâmico em Paris e Bruxelas — é preciso “fechar as brechas”, disse. Pediu também aos países europeus que reforcem o seu papel no combate aos jihadistas no Iraque e Síria, mesmo que vários participem já na coligação aérea contra os extremistas. O Presidente americano falou também dos riscos de uma Rússia mais agressiva e apelou a que se mantivessem sanções contra Moscovo até que se cumpram os acordos de Minsk.

“É por isso que devemos manter-nos flexíveis e investir em novas ferramentas, como a ciberdefesa e sistemas antimísseis”, disse Barack Obama, antes de uma minicimeira com líderes europeus, em que se discutiram temas como segurança europeia, estratégia para a Síria e Líbia e crise dos refugiados. “É por isso que cada membro da NATO deve contribuir com a sua parte: 2% do PIB, em nome da nossa segurança comum, algo que nem sempre acontece”, concluiu — em 2015, só quatro dos 25 países europeus na aliança cumpriram esta marca.

A crítica de Obama é um dos aspectos centrais da sua visita a aliados no Golfo e Europa, dois blocos que o Presidente norte-americano considerou “oportunistas”, no que diz respeito à sua contribuição na ordem militar internacional — disse-o numa compilação de entrevistas dadas à revista The Atlantic. A paragem pelo Reino Unido, onde falou dos riscos da sua saída da UE; e agora na Alemanha, onde defendeu o acordo de livre-comércio transatlântico conhecido como TTIP, sublinham os receios americanos de uma Europa fragmentada e irrelevante.

“Isto é um momento decisivo”, afirmou Obama, diante uma plateia onde se encontrava a chanceler alemã, Angela Merkel, a sua principal aliada europeia. “O que acontece neste continente tem consequências em todo o mundo. Se uma Europa unida, liberal, pluralista e de livre-mercado começar a duvidar de si mesma, então não podemos esperar que continue o progresso que só agora ganha tracção em muitas partes do mundo”, disse. “Vim ao coração da Europa dizer que os EUA e o mundo precisam de uma Europa forte, próspera e democrática.”

Antes de partir para Washington, Obama reuniu-se com Merkel, o Presidente francês, François Hollande; e os primeiros-ministros britânico e italiano, David Cameron e Matteo Renzi. No final do encontro — não houve conferência de imprensa — a Casa Branca publicou um comunicado em que os cinco líderes pedem aos grupos armados na Síria que respeitem a cessação de hostilidades que nas últimas duas semanas praticamente ruiu, principalmente no Norte do país, onde rebeldes e regime batalham agressivamente nos arredores de Alepo.

A oposição síria no exílio anunciou na última semana que iria suspender as negociações de paz em Genebra para responder a ofensivas do regime e ameaçou não reaparecer esta semana, que é quando deve ser retomado o diálogo na Suíça. Numa chamada telefónica esta segunda-feira com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, exigiu que a “oposição moderada” na Síria abandonasse territórios controlados por forças extremistas como a Frente al-Nusra — os dois responsáveis manifestaram apoio às negociações de paz em Genebra.   

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