Obama e Netanyahu ignoram tensões e abrem nova era de cordialidade

Presidente dos Estados Unidos recebeu primeiro-ministro israelita na Casa Branca.

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Sorrisos no encontro de Barack Obama e Benjamin Netanyahu na Sala Oval da Casa Branca AFP/SAUL LOEB

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apertaram as mãos (duas vezes!) e sorriram brevemente para a fotografia, ignorando a desconfiança resultante do processo negocial para a assinatura de um acordo internacional para a supervisão e limitação do programa nuclear do Irão – uma das conquistas de política externa mais exaltadas pela Administração norte-americana, e abertamente criticada pelo líder israelita.

No seu primeiro encontro depois do fecho das negociações, em Julho, Obama fez uma breve referência ao acordo, mas todo o resto do seu discurso serviu para amenizar o ambiente de antagonismo e tensão que inevitavelmente se instala quando os dois líderes partilham o mesmo palco. “Não há nenhum líder estrangeiro com quem me tenha reunido tantas vezes”, sublinhou Obama, para quem a frequência dos encontros é a prova “da extraordinária ligação entre os Estados Unidos e Israel”. Igualmente deferencial, o líder israelita agradeceu “a tremenda amizade e a forte e sustentada aliança” com o seu país.

Da última vez que esteve em Washington, Bibi ignorou a cortesia diplomática e dobrou todas as regras do Congresso, aceitando um convite da bancada republicana para uma intervenção em que activamente apelou à rebelião do povo norte-americano contra o acordo que estava a ser negociado pelos Estados Unidos (e o chamado grupo P5+1) na Suíça. A iniciativa enfureceu a Casa Branca, onde Netanyahu já não era uma figura muito grata – e a sua “afronta” acabou por sair gorada, não só porque Obama não o recebeu, como a sua atitude de desafio queimou várias pontes em Washington.

Desta vez, não houve nenhum passo em falso. Netanyahu não resistiu porém a uma nova picardia na véspera da partida, provocando o Departamento de Estado (que pediu um “esclarecimento”) com a nomeação como seu porta-voz de Ran Baratz, um polémico comentador conservador que descreveu Obama como “o anti-semita moderno” e comparou a acuidade mental do secretário de Estado, John Kerry, à de uma criança. Mas Baratz acabou por não viajar na comitiva governamental israelita.

Dado o histórico de divergências pessoais e políticas entre os dois líderes, os comentadores e analistas desvalorizaram os gestos cordiais e a linguagem conciliatória. Mas não deixaram passar o pragmatismo revelado tanto por Obama como por Netanyahu, que evitaram alimentar o debate, e abriram uma nova etapa de diálogo em torno de questões como a instabilidade política e de segurança no Médio Oriente, e o novo pacto de apoio militar dos EUA a Israel, que poderá ascender aos 50 mil milhões de dólares na próxima década, segundo a Reuters.

Numa concessão à diplomacia norte-americana, Netanyahu reafirmou o compromisso do seu Governo com a solução de dois Estados que é defendida pelos EUA como a única solução capaz de pôr termo ao conflito israelo-palestiniano, e que parecia ter sido posta em causa nos seus discursos de campanha eleitoral. “Nós não desistimos da nossa esperança na paz nem nunca desistiremos”, afirmou o primeiro-ministro.

As conversações de paz ruíram em 2014 e, informalmente, a Administração Obama reconhece que esse processo dificilmente será retomado (e muito menos encerrado) até ao fim do mandato, em 2016 – para a Casa Branca já se trata, apenas, de fixar as condições para que o diálogo venha a acontecer no futuro. O primeiro-ministro israelita disse que “ninguém deve duvidar da vontade de Israel de viver pacificamente com os seus vizinhos pacíficos”, mas recordando a série recente de ataques de militantes palestinianos nas ruas de Israel, reforçou que “também ninguém pode duvidar da determinação de Israel em defender-se do terror e da destruição”.

Obama correspondeu, e deixou “muito clara, e nos termos mais veementes” a sua condenação à violência palestiniana contra cidadãos israelitas. “E deixem-me repetir, outra vez, a minha convicção de que Israel não só tem o direito como também a obrigação de se proteger” desses ataques.

 

 

 

 

 

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