Obama: presença de Abbas no funeral de Peres lembra que a paz está por fazer

Autoridades israelitas montaram dispositivo de segurança "sem precedentes" para o funeral do antigo primeiro-ministro e Presidente.

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Barack Obama discursou na cerimónia no Monte Herzl, o cemitério nacional de Israel REUTERS/Baz Ratner
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Bill Clinton REUTERS/Kevin Lamarque
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François Hollande REUTERS/Baz Ratner
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Barack Obama com o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu REUTERS/Abir Sultan
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Príncipe Carlos de Inglaterra REUTERS/Baz Ratner
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Família de Shimon Peres REUTERS/Ammar Awad
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Jovens judeus ultra-ortodoxos assistem à cerimónia REUTERS/Dylan Martinez
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Dezenas de líderes internacionais juntaram-se em Jerusalém na última homenagem a Shimon Peres, um dos últimos da geração de fundadores do Estado de Israel, numa concentração como já não era vista no país desde o funeral, em 1995, do antigo primeiro-ministro israelita Yitzhak Rabin, com quem partilhou o Prémio Nobel da Paz. 

“Ele começou a vida como um dos estudantes mais brilhantes de Israel, tornou-se o melhor professor e terminou a vida como o seu maior sonhador”, afirmou Bill Clinton, que em 1993 presidiu à assinatura dos acordos de Paz de Oslo e que foi, tal como o actual chefe de Estado norte-americano Barack Obama, convidado a discursar no funeral no Monte Herzl, o cemitério nacional de Israel.

Debaixo da mesma tenda estiveram representantes de 70 países, alguns deles rivais. Mas a presença mais significativa foi a de Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestiniana, que esteve em Jerusalém pela primeira vez desde 2010. Sucessor de Yasser Arafat, que em 1994 partilhou com Peres e Rabin o Nobel da Paz, Abbas foi um dos principais negociadores palestinianos nos longos dias de conversações que culminaram com a assinatura no ano anterior dos acordos de Oslo. Mas os esforços de paz, pelos quais Peres é agora lembrado, estão em ponto morto e Abbas insiste que não será possível retomá-los enquanto o Governo israelita de Benjamin Netanyahu não se comprometer definitivamente com o congelamento da colonização da Cisjordânia.

“A presença do presidente Abbas é uma lembrança de que a paz ainda está por fazer”, disse Obama, num discurso em que lembrou Peres como um dos “gigantes do século XX”, alguém que, “mesmo perante o terrorismo e as repetidas desilusões à mesa das negociações, insistiu sempre que os palestinianos devem ser vistos como iguais em dignidade aos judeus e, por isso, iguais na autodeterminação”. Na intervenção mais política do dia, fez questão de lembrar aos dirigentes israelitas que o antigo primeiro-ministro e Presidente percebia que “o povo judeu não nasceu para dominar outro povo”.

Um aperto de mão

Apesar do enorme fosso que os separa, Abbas e Netanyahu apertaram a mão antes do início do funeral, trocando breves palavras. “Há quanto tempo, há quanto tempo”, disse o líder palestiniano, enquanto o chefe do Governo israelita, que repetidamente o acusa de instigar a violência contra os judeus, lhe agradecia a presença na cerimónia fúnebre. “É algo que aprecio muito em nome do nosso povo”, disse. Pouco depois, Netanyahu elogiou Peres, que foi sempre seu crítico e rival, como “um grande homem para Israel e um grande homem para o mundo”, mas não escondeu que os dois divergiam no caminho a seguir – para Peres, “a paz é a verdadeira segurança", para o actual primeiro-ministro “no Médio Oriente, a segurança é essencial para conquistar a paz”.

A ida de Abbas a Jerusalém serve de tributo aos últimos anos da vida de Peres, mas é polémica entre os palestinianos, muitos dos quais não escondem o seu desagrado com a participação do seu líder na homenagem a um homem que nas primeiras décadas da sua vida política esteve envolvido nas guerras israelo-árabes, foi um dos artífices do armamento de Israel e um dos primeiros promotores da colonização dos territórios palestinianos.

Um retrato que é genérico na região e que levou apenas a Jordânia e o Egipto – os únicos países árabes que assinaram acordos de paz com Israel – a enviar representantes ao funeral. Também Ayman Odeh, o líder do principal bloco árabe-israelita no Knesset, declinou o convite para o funeral, numa decisão que foi criticada pela família de Peres. 

Shimon Peres, de 93 anos, morreu quarta-feira num hospital nos arredores de Telavive, duas semanas depois de ter sofrido um AVC. Ficará sepultado no Monte Herzl ao lado de Rabin, morto em 1995 por um extremista judeu que se opunha aos acordos de Oslo.

Com dezenas de delegações internacionais no país, as forças de segurança israelita não olharam a meios, numa operação que o chefe da polícia Ronu Alscheich disse “ter uma escala sem precedentes”. Ao todo, oito mil agentes foram mobilizados para a operação – um agente foi colocado a cada 30 metros da estrada que liga Jerusalém ao Aeroporto Ben Gurion, encerrada até ao final do dia ao tráfego, e centenas de outros mobilizados para a segurança das delegações. Na véspera das cerimónias, a polícia israelita deteve também preventivamente várias pessoas – árabes e judeus – alegando razões de segurança, apesar de garantir que não existia uma ameaça específica contra o funeral. 

 

 

 

 

 

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