Obama defende fim dos tratamentos para a homossexualidade

“A minha morte tem de ter algum sentido. Resolvam os problemas da sociedade. Por favor”, escreveu uma adolescente transgénero antes de se suicidar.

Foto
Há vários anos que a unidade é alvo de queixas de Organizações pela defesa dos direitos LGBT Joe Raedle/AFP

A Administração de Barack Obama condena as terapias de “conversão”, também conhecidas como “de reparação”, afirmando a sua oposição a todo e qualquer tratamento que tenha por objectivo mudar a identidade sexual de uma pessoa.

“A esmagadora maioria das provas científicas demonstram que a terapia de conversão, especialmente quando é praticada em jovens, não é nem médica nem eticamente apropriada e pode causar danos substanciais”, afirma numa declaração Valerie Jarrett, conselheira da Casa Branca. “No âmbito da nossa dedicação à protecção da juventude americana, esta Administração apoia os esforços para banir o uso de terapias de conversão de menores.”

Esta posição surge em resposta a uma petição online que pede a proibição destas terapias e que já foi assinada por 120 mil pessoas. O apelo foi inspirado por Leelah Alcorn, uma transgénero de 17 anos que se suicidou em Dezembro.

“Nós partilhamos as vossas preocupações sobre os efeitos potencialmente devastadores nas vidas dos jovens transgénero, gays, lésbicas, bissexuais ou queer”, diz Jarrett, em resposta à petição. Antes, a conselheira de Obama falou com os promotores do abaixo-assinado. “Ela ouviu as suas histórias pessoais sobre a importância desta questão e agradeceu-lhes os seus esforços”, disse ao jornal The Washington Post um responsável da Casa Branca que pediu anonimato por estar a descrever uma conversa privada.

Alguns grupos conservadores e médicos religiosos apoiam as terapias psiquiátricas de conversão. “Nós acreditamos que a mudança é possível. As pessoas vão à terapia porque querem mudar, porque realmente funciona”, disse ao New York Times David Pickup, que exerce terapia familiar na Califórnia e no Texas.

“Há muitos psiquiatras, psicólogos, conselheiros e terapeutas que têm relatado sucesso no tratamento de doentes por atracção não desejada pelo mesmo sexo”, escreveu recentemente Peter Spring, do Family Research Council, um grupo de lobbying de cristãos conservadores.

Já o Exodus International, um dos principais defensores destas terapias, fechou as portas em 2013 e pediu desculpas aos gays pelo mal que lhes tinha provocado.

Risco de depressão ou suicídio
Grupos de activistas pelos direitos dos gays, assim como organizações de profissionais da saúde mental, como a Associação de Psiquiatras da América, defendem que estas práticas aumentam o risco de depressão ou suicídio. Os estados da Califórnia e de New Jersey proibiram estas terapias, mas há estados como Oklahoma onde está a ser estudada legislação para proteger estas práticas de futuros processos judiciais.

Jarrett, e através dela, o Presidente, não chega a defender que o Congresso legisle para impedir estas terapias em todo o país, mas os activistas não deixaram de aplaudir a tomada de posição. “Ter o Presidente Obama e o peso da Casa Branca a juntar-se aos nossos esforços para banir a terapia de conversão é crucial na luta pelos jovens transgénero e LGBT”, disse Mara Keisling, directora-executiva do National Center for Transgender Equality.

Obama tem feito dos direitos dos gays e transgénero uma das marcas da sua presidência: as Forças Armadas puseram fim à proibição de aceitar soldados assumidamente gays; o Departamento da Justiça opôs-se à proibição pelos tribunais do casamento entre pessoas do mesmo sexo e Obama assinou uma ordem executiva que obriga as empresas contratadas pelo Governo federal a terem políticas que impeçam a discriminação contra os homossexuais.

Leelah Alcorn, a adolescente que se suicidou, deixou uma nota que se tornou viral, explicando a sua decisão com anos de luta com os seus pais, cristãos rigorosos que recusaram sempre reconhecer a sua identidade feminina. “A única forma que tenho para descansar em paz é se um dia as pessoas transgénero não forem tratadas como eu fui…”, escreve, no fim do texto. “A minha morte tem de ter algum sentido. Resolvam os problemas da sociedade. Por favor.”

Sugerir correcção
Ler 13 comentários