O voto vergonhoso do Conselho de Segurança

Os líderes israelitas farão tudo para impedir qualquer esforço das Nações Unidas em proporcionar uma solução pacífica na Terra Santa.

O dia 30 de Dezembro de 2014 ficou marcado por mais uma falha do Conselho de Segurança das Nações Unidas em defender as suas responsabilidades na manutenção da paz e segurança mundiais, através do voto contra a proposta árabe-palestiniana, que consta numa solução pacífica para décadas de conflito entre israelitas e palestinianos. Esta votação é, sem dúvida, uma vitória para o radicalismo e uma derrota para a moderação em geral, para todos aqueles que querem a paz na Terra Santa em particular.

Desde a assinatura do Acordo de Oslo em 1993 – quando os palestinianos adotaram a luta diplomática ao invés da armada – que os requerentes da paz estão a enfrentar dois tipos de obstáculos; o monopólio norte-americano e a ideologia racial sionista.            

Não é nenhum segredo que a política externa norte-americana sobre o Médio Oriente é extremamente influenciada pelo lobby sionista. Ironicamente, os líderes norte-americanos descobrem esta realidade vergonhosa apenas após terminarem os seus mandatos na Casa Branca. Ex-presidentes como Carter e Clinton escreveram livros, artigos e fizeram declarações culpando a liderança israelita pela paralisação da paz e a perpetuidade do extremismo na região. No entanto, a atual Administração norte-americana foi a mais crítica das erradas práticas israelitas. Mesmo assim, o seu último voto a favor de Israel reflete a influência do lobby sionista.

Por outro lado, a ausência do embaixador israelita na votação do Conselho de Segurança não é apenas uma atitude arrogante, mas mais um sinal dessa influência sionista. Na frente israelita, a paz é questionada pela cultura injustificada de medo dentro desta sociedade, criada pela sua liderança, para servir a ideologia sionista global de desconfiar dos outros (todos os não judeus). 

Neste contexto, Netanyahu gastou milhares de milhões de dólares com propaganda para difamar o programa nuclear iraniano, propositadamente para fortalecer essa cultura de medo entre os israelitas e também para sustentar o Exército israelita e a superioridade nuclear na região, de forma a conter todos os seus vizinhos. Esta cultura contraditória do poder e do medo em Israel explica por que dois terços dos israelitas não querem Netanyahu. No entanto, o mais provável é que seja ele o próximo primeiro-ministro. Esta contradição anula assim uma solução pacífica realista e oferece um ambiente próspero para o radicalismo na região.        

Desta forma, os líderes israelitas farão tudo para impedir qualquer esforço das Nações Unidas em proporcionar uma solução pacífica na Terra Santa, porque Israel deve à ONU uma dívida que não pode saldar, a Resolução 194, que apela ao direito de regresso de todos os palestinianos, forçados a sair das suas casas no território chamado hoje Israel, e a Resolução das Nações Unidas 181, que levou Israel a existir em 56% da Palestina histórica e não 78%, como se verifica no presente.

A intenção, não declarada, de Israel é manter o statu quo atual, uma ocupação rentável.

Os Estados Unidos da América não só perderam a sua credibilidade como líderes do mundo livre com o seu voto contra a dita proposta – que substituiu obviamente um veto que não foi preciso, uma vez que só oito membros votaram a favor –, como também se fizeram cúmplices de Israel em todas as suas práticas ilegais e atrocidades contra os palestinianos sob a ocupação militar, tendo em conta que todos os artigos da proposta vetada são consistentes com o direito internacional, com as resoluções da ONU e com a política norte-americana declarada. O ex-secretário de Estado norte-americano Dean Acheson diz: "A carta da ONU foi uma versão condensada da filosofia da política norte-americana." Assim, com este veto, que não chegaram a utilizar, torna-se claro que os Estados Unidos agem contra os seus próprios princípios, assinalando o momento mais escuro desta época sionista norte-americana.

Sem dúvida, perante toda esta confusão, é o momento certo para a União Europeia – com todo o seu poder e os seus valores profundamente enraizados – preencher o vácuo de liderança mundial, para um amanhã mais justo e mais humano para todos.

Embaixador da Palestina

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