O tempo esgota-se em Taiwan para mais de cem pessoas sob os escombros

Equipas de resgate procuram dezenas de pessoas presas debaixo do bloco residencial de 17 andares que ruiu com o sismo de sexta-feira. Confirmam-se 38 mortos, mas estimativas apontam para mais de uma centena de vítimas.

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Equipa de socorristas olha os escombros do edifício Dragão Dourado Wei-guan Anthony Wallace/AFP

Centenas de socorristas e soldados taiwaneses correm esta segunda-feira contra o tempo para chegarem às 117 pessoas que se calcula estarem ainda presas sob as ruínas de um grande complexo residencial que ruiu na sexta-feira à noite em Tainan, a cidade mais afectada pelo sismo que atingiu a ilha de Taiwan.

Mas à medida que avança o terceiro dia de buscas – o terramoto aconteceu pelas 20h de sexta-feira em Portugal continental –, caem as expectativas de se vir a resgatar um grande número de pessoas com vida. Para já confirmam-se 38 mortos, devido à queda da grande unidade residencial de 17 andares, mas as autoridades locais admitem que o valor deve superar uma centena.

“Há mais vítimas do que os que se conseguem resgatar e este número vai provavelmente ultrapassar os cem [mortos]”, afirmou nesta segunda-feira o presidente da Câmara de Tainan, William Lai.

Das 38 vítimas, 36 vieram dos escombros do chamado "Edifício Dragão Dourado Wei-guan", construído em forma de “u”, onde secções ruíram e outras tombaram entre si durante o terramoto.

Mais de 300 pessoas escaparam do edifício depois do sismo. Conseguiram fazê-lo sobretudo das zonas da construção que ficaram apenas inclinadas. Mas dezenas de residentes de pisos interiores viram-se soterrados. Celebrava-se a chegada do Novo Ano chinês e muitos destes quartos estavam arrendados por jovens estudantes – algo que se descobriu apenas no domingo.  

Nesta segunda-feira foram resgatadas quatro pessoas com vida: de manhã, uma mulher encontrada sob o corpo do marido, que a terá escudado de uma viga e, horas mais tarde, um homem. Já de tarde e passadas 60 horas do terramoto, as equipas encontraram num espaço de poucos minutos uma rapariga de oito anos e a sua tia.

Inspecção prometida
Ao terceiro dia caem substancialmente as hipóteses de sobrevivência para pessoas feridas, sem acesso a água ou comida e a operação avança lentamente, dada a fragilidade da construção. “Não queremos usar grandes perfuradoras, porque podemos matar pessoas”, afirmou Chen Mei-ling, o secretário-geral de Tainan, ao New York Times.

Os socorristas tentam aproveitar os fossos dos elevadores e até entradas de saneamento para chegar à origem dos sinais de vida que ainda se observam por sensores de infravermelhos e câmaras em fibra óptica.

Há grandes dúvidas sobre a qualidade da construção: os edifícios em redor ficaram incólumes e – mais denunciador – descobriram-se latas de conserva vazias e esferovite onde devia haver tijolos.

Segundo Chen Mei-ling – o quarto mais alto responsável da cidade –, há duas equipas de investigadores na recolha de indícios sobre a provável má construção do edifício: uma do gabinete do procurador, outra do Governo. “Neste terramoto foi apenas este edifício a ruir, por isso foi definitivamente um problema de construção”, afirmou.

A recém-eleita Presidente do Taiwan, Tsai Ing-wen, ainda não empossada, e o Presidente Ma Ying-jeou prometeram uma inspecção aprofundada aos edifícios da ilha para se certificarem da sua segurança anti-sísmica. Taiwan tem sob si a falha de Chishan e os terramotos são frequentes. O da madrugada de sábado teve uma magnitude de 6,4 pontos na escala de Richter, o que não é incomum na ilha, embora se tenha dado mais perto da superfície do que outros.

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