O sinal da França e da Alemanha

O eixo franco-alemão não deseja a saída do Reino Unido da UE, mas Cameron tem de ser mais comedido.

A um mês da cimeira de 25 de Junho, França e Alemanha fizeram saber ao mundo que se concertaram sobre uma proposta de aprofundamento da integração europeia, que deverá ser submetida à votação dos líderes europeus nessa importante reunião. A iniciativa franco-alemã é, obviamente, uma jogada de antecipação de Angela Merkel e François Hollande face às mais do que conhecidas intenções de David Cameron apresentar, nessa cimeira, o seu caderno de encargos para garantir a permanência do Reino Unido na União Europeia. A realização de um referendo sobre a Europa até ao “fim de 2016” foi uma das promessas de Cameron antes das recentes eleições legislativas e, de certa forma, a resposta encontrada para travar o alarmante crescimento dos eurocépticos, que ameaçavam provocar uma hemorragia no eleitorado conservador. Essa posição de força, pontuada por declarações em defesa de uma política limitadora da imigração intra-europeia, pode ter-lhe granjeado muitos votos dentro do seu próprio país, mas desagradou a uma Europa mais consciente dos perigos de abrir outra frente de conflitos nos frágeis equilíbrios que sustentam a União. No meio de uma crise económica e financeira como a actual, só faltava mesmo impedir a livre circulação de cidadãos e limitar a expansão do mercado único europeu.

Ainda não se conhecem os pormenores da proposta subscrita por Merkel e Hollande, mas percebe-se que a intenção é reformar a zona euro sem mexer nos tratados, o contrário do que deseja Cameron, cujo verdadeiro objectivo é tentar renegociar para recuperar poderes perdidos para Bruxelas. Ciente desse objectivo, o eixo franco-alemão quer retirar margem de manobra ao primeiro-ministro britânico, dando-lhe um sinal de que as negociações não podem decorrer apenas nos termos e nos timings por ele definidos, mas sim num plano de equilíbrio de poderes. Afinal, o Reino Unido não faz parte do euro e a França e a Alemanha também têm eleições em 2017.

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