O que têm em comum Skittles e refugiados sírios? Bastam três para matar americanos

Filho de Donald Trump compara entrada de refugiados sírios nos EUA a uma taça cheia de drageias com sabor a fruta, em que três delas estão envenenadas. Empresa responde: "Os Skittles são doces. Os refugiados são pessoas."

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Donald Trump Jr. na convenção do Partido Republicano Donald Trump Jr./Twitter

A campanha de Donald Trump está a ser acusada, mais uma vez, de desumanizar o drama dos milhões de refugiados e requerentes de asilo que fogem da guerra na Síria. Desta vez, coube ao filho mais velho do candidato do Partido Republicano garantir mais umas horas de exposição grátis nos jornais e nas televisões para a corrida do pai à Casa Branca: numa mensagem partilhada no Twitter, Donald Trump Jr. comparou os refugiados sírios a uma taça cheia de Skittles, e perguntou se alguém estaria disposto a tirar uma mão cheia deles se soubesse que três estavam envenenados.

Como era esperado, o tweet de Trump Jr. fez sucesso entre os apoiantes de Donald Trump, com milhares e milhares de partilhas e daqueles corações que indicam o amor declarado pela mensagem transmitida. Mas, também como era esperado, muitas dessas partilhas foram feitas com o objectivo de condenar a mensagem – com acusações directas de racismo e também com muito sarcasmo à mistura.

"Se eu tivesse uma taça de Skittles e se vos dissesse que três deles vos matariam. Tirariam uma mão cheia? O nosso problema com os refugiados sírios é igual", lê-se na imagem partilhada por Donald Trump Jr. Em cima dessa imagem, no mesmo tweet, o filho do candidato do Partido Republicano repete uma das ideias fortes da campanha do pai: "Esta imagem diz tudo. Vamos acabar com o politicamente correcto, que não põe a América em primeiro lugar."

Uma das primeiras reacções negativas foi de Jack Schofield, um antigo jornalista de tecnologia de The Guardian e que agora dá conselhos sobre consumo de gadgets no mesmo jornal: "Os Trump são imigrantes alemães (que mentiram e disseram que eram suecos). Donald Trump casou-se com uma trabalhadora imigrante ilegal", escreveu Schofield, referindo-se a Melania Trump, que foi acusada de ter trabalhado como modelo fotográfico nos EUA na década de 1990 de forma ilegal (Melania Trump e um dos seus advogados, Michael Wildes, desmentiram essa informação e mostraram documentos que provam que a então modelo tinha um visto do tipo HB1, que autoriza estrangeiros "altamente especializados" a trabalharem de forma legal nos EUA).

Em defesa de Donald Trump e do seu Jr. veio um utilizador que se identifica como Deplorable Avispar, e que tem partilhado várias mensagens de apoio ao candidato do Partido Republicano: "Ela não era ilegal, e os imigrantes alemães são muito superiores aos imigrantes muçulmanos."

As trocas de acusações continuaram no mesmo tom por tweets e mais tweets a perder de vista, mas a mensagem de Donald Trump Jr. não passou despercebida à empresa que detém a marca Skittles – umas drageias doces semelhantes aos Smarties na forma, mas com sabor a fruta.

"Os Skittles são doces. Os refugiados são pessoas. Achamos que não é uma analogia adequada. Não vamos fazer mais comentários porque tudo o que dissermos pode ser mal interpretado como sendo uma operação de marketing", lê-se num comunicado da empresa Wrigley Americas assinado por uma das suas vice-presidentes, Denise Young.

Em resposta ao tweet de Donald Trump Jr., o antigo responsável máximo pelos discursos do Presidente Barack Obama, Jon Favreau, partilhou a imagem de Omran Daqneesh, a criança de cinco anos que foi fotografada numa ambulância, coberta de pó e sangue e com um rosto inexpressivo: "Hey, Donald Trump Jr., esta é uma dos milhões de crianças que tu comparaste a um Skittle envenenado."

Um dos temas mais fortes da campanha de Donald Trump é instigar o medo provocado pela entrada de muçulmanos nos EUA – desde que anunciou a sua corrida à Casa Branca, o candidato já defendeu a proibição da entrada de todos os muçulmanos no país; a criação de uma base de dados para acompanhar os movimentos dos que já lá estão; e a construção de uma "zona segura" na Síria, um país devastado por uma guerra há cinco anos que já fez quase 500 mil mortos. 

De acordo com os números do Departamento de Estado norte-americano, dos 785 mil refugiados que chegaram aos EUA desde os atentados de 11 de Setembro de 2001 contra o World Trade Center e o Pentágono, foram detidos menos de 20 por questões relacionadas com o terrorismo. Entre Janeiro e Agosto deste ano chegaram aos EUA dez mil refugiados sírios, depois de o Presidente Barack Obama ter cedido aos pedidos de governos europeus para permitir a entrada de mais refugiados.

Desde o início da guerra, em 2011, os EUA acolheram 12 mil refugiados sírios. De acordo com os números das Nações Unidas, há 4,8 milhões de sírios registados como refugiados ou à espera de resposta aos pedidos de asilo em países próximos da Síria – 2,7 milhões na Turquia, um milhão no Líbano, 656 mil na Jordânia, 239 mil no Iraque e 114 mil no Egipto. Entre Abril de 2011 e Julho de 2016, 401 mil sírios pediram asilo na Alemanha, 314 mil na Sérvia e 109 mil na Suécia, também segundo os dados das Nações Unidas.

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