O que fazem os Nobel com o dinheiro do prémio?

Escolhas vão desde motocicletas a causas humanitárias. Mas poucos falam do assunto.

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União Europeia, galardoada com o Nobel da Paz em 2012: dinheiro foi para causas públicas HEIKO JUNGE/AFP

Garantir a independência financeira, apoiar uma boa causa, oferecer uma prenda a si próprio? Os laureados com o Prémio Nobel utilizam das formas mais surpreendentes a liberdade que têm para gastar os oito milhões de coroas suecas (cerca de 925.000 euros) de recompensa. Excepto o Nobel da Paz, onde há um escrutínio público apertado sobre as escolhas.

O que fazem os Nobel ao dinheiro do prémio? Assim como os vencedores de lotaria, os laureados de 2013, que começam a ser anunciados nesta segunda-feira, terão tempo para responder à pergunta. Serge Haroche, Nobel da Física em 2010, afirma “não ter tido tempo de pensar no dinheiro”. Ele admite que tenciona investir em imóveis, como muitos outros laureados, entre os poucos que ousam falar do assunto.

Os laureados podem utilizar como bem entenderem a recompensa financeira. “Depende muito do seu país de origem, das suas finanças pessoais, dos dividendos que o prémio lhes traz e daquilo que são na vida”, afirma o director-geral da Fundação Nobel, Lars Heikensten.

A autora austríaca Elfriede Jelinek, galardoada em 2004 com o Nobel da Literatura, declarou que o prémio garantiria a sua “independência financeira”.

Outros dão livre curso às suas paixões. O Nobel de Medicina de 2001, Paul Nurse, fez uma renovação completa à sua motocicleta. Outro laureado de Medicina, em 1993, Richard Roberts, instalou um campo de croquet diante da sua casa.

Os vencedores em Literatura são os mais discretos sobre a utilização da sua nova fortuna. “Mesmo que sejam muito conhecidos, muitos não ganham muito dinheiro com os seus livros”, explica Anna Gunder, investigador da Universidade de Uppsala, na Suécia.

O prémio assegura-lhes uma retaguarda financeira e oferece-lhes a liberdade de viverem da sua pluma. Mas comporta também efeitos negativos. “Muda muita coisa nas suas carreiras. No ano em que recebem o prémio, passam a escrever menos. Mas depois de um ano ou dois, recomeçam”, diz a investigadora.

Decisões clássicas
Para os laureados com o Nobel da Paz, muitas vezes a decisão é mais clássica. Personalidades políticas, organizações ou militantes reconhecidos estão mais frequentemente sob a luz dos holofotes e são obrigados a explicar o que é farão ao dinheiro.

Muitos, como o Presidente norte-americano Barack Obama (2009) e a União Europeia (2012), doaram o dinheiro a instituições de caridade. Outros sustentam os seus próprios projectos. O antigo Presidente finlandês Martti Ahtisaari, laureado em 2008, declarou que financiaria um grupo de resolução de conflitos que ele próprio criou.

Por sua parte, o Presidente norte-americano Woodrow Wilson, premiado em 1920, depositou o seu pecúlio num banco sueco, para garantir o seu futuro.

O valor do Prémio Nobel varia conforme os anos. Em 2012, a crise financeira obrigou a uma redução de 20%. Foi uma decisão oportuna, segundo Lars Heikensten: “Como estamos ligados [ao Nobel] para sempre, temos de agir conforme o momento”.

O montante do prémio não deverá ser revisto em alta nos próximos anos. Mas os futuros laureados não terão do que se queixar quando receberem a famosa chamada telefónica de Estocolmo ou de Olso.

“O dinheiro é um dos lados bons do prémio”, afirma o Nobel de Medicina de 1993, o norte-americano Paul Sharp, que pode satisfazer o seu amor por belas pedras e ofereceu a si próprio uma moradia centenária. “Mas é o reconhecimento que conta, antes de tudo”, completa.

“O prémio será prestigiante na mesma sem o dinheiro”, conclui Serge Haroche.

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