O que está por detrás do caos em Ferguson?

O polícia que matou Michael Brown não vai a julgamento. Ferguson não se conforma.

Desde o Verão que na cidade norte-americana de Ferguson a paz esteve como que suspensa. No dia 9 de Agosto um polícia branco, Darren Wilson, matou com seis tiros Michael Brown, um adolescente negro de 18 anos. Na altura milhares saíram à rua para protestar, numa cidade em que a convivência entre a comunidade negra e as forças policiais sempre foi tensa.

Esta terça-feira regressou o caos às ruas de St. Louis com carros queimados, vidros partidos, lojas incendiadas e com a polícia a responder com gás lacrimogéneo. Isto depois de um grande júri ter decidido não indiciar o polícia que baleou e matou o jovem negro. O grande júri concluiu que não havia provas suficientes para levar o agente Wilson a tribunal, levando milhares novamente a sair às ruas de Ferguson. A desconfiança e descrença em relação à decisão de não julgar o caso é ainda maior porque nos EUA é regra na maior parte dos casos, e não a excepção, levar o suspeito a julgamento quando o Ministério Público tenta convencer o grande júri.

Barack Obama apelou ao óbvio – num Estado de direito as decisões da justiça são para respeitar – mas não deixou de colocar o dedo na ferida: “O facto é que em muitas partes deste país existe uma profunda falta de confiança entre a polícia e as comunidades de cor”. A agência Reuters citava esta terça-feira um estudo de opinião de 2013 a propósito da relação dos polícias com as minorias que ilustra bem este problema. Confrontados com a frase de que “os polícias preocupam-se mais com crimes contra os brancos do que crimes contra minorias”, 70% dos inquiridos de raça negra concordaram, contra os 17% de brancos.

E esta é talvez a questão de fundo que nem mesmo uma decisão de levar Darren Wilson a tribunal poderia resolver. Poderia ajudar a debelar a revolta nas ruas, mas continuaria a ser uma espécie da paz suspensa. É o tal “desafio mais abrangente” que Obama diz que os EUA têm de resolver.

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