“O lugar mais seguro da América? Não existe”

Newtown, uma pacata vila de 27 mil habitantes, tenta lidar com a pergunta: como é que um tiroteio em massa pode ter acontecido aqui?

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Placa da escola foi rapidamente transformada num memorial Reuters
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Vigílias de homenagem continuam em Newtown Reuters
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Criança com a mãe em Newtown Reuters
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Autoridades também prestam homenagem Reuters
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Memorial construído à volta da placa da escola Reuters
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Uma lágrima junto à igreja católica de Santa Rosa de Lima Reuters
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Família em vigília pelas vítimas do massacre Reuters
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Cobertura jornalística do caso que abalou os EUA Reuters

Newtown é o tipo de lugar onde a comunidade inteira se junta todos os anos, no início de Dezembro, para acender uma árvore de Natal. E assim estava a árvore iluminada dos pés à cabeça no sábado à noite, mas tudo o resto nesta pequena vila do Connecticut não correspondia à normalidade.

A marcha lenta do trânsito, formando uma linha recta de luzes vermelhas (as luzes traseiras). A desproporção no número de jornalistas – carrinhas de televisões, fotógrafos, repórteres com sotaque estrangeiro. Pessoas levando ramos de flores pelo braço, colina acima, para depositar junto à escola primária de Sandy Hook onde, na sexta-feira de manhã, Adam Lanza, de 20 anos, matou 26 pessoas a tiro, incluindo 20 crianças entre os seis e os sete anos.

A polícia estadual fechou o perímetro à volta do estabelecimento de ensino e ninguém está autorizado a aproximar-se. A placa que anuncia a escola, onde se lê “Visitantes são bem-vindos”, transformou-se num memorial instantâneo, com velas, peluches, balões e um par de asas brancas.

Denise Zenevitch, que vive a oito quilómetros, em Brookfield, diz que está aqui para “rezar pelas crianças, rezar pelos pais”. A filha Victoria, de 17 anos, que ainda tem o uniforme de cheerleader (animadora de claque) vestido e purpurina na cara, veio com ela. Na sexta-feira, a escola de Victoria, como todas as escolas na zona, foi encerrada – com os alunos e os professores dentro –, assim que se soube do tiroteio na Sandy Hook Elementary. “O director anunciou que íamos ter de ficar retidos no interior. Eles telefonaram aos pais a avisar para não irem buscar os filhos a menos que fosse absolutamente necessário”, explica Victoria.

“A ideia era manter as coisas sob controlo, para evitar o caos”, diz a mãe. “Houve tantas histórias a circular ao início. Por exemplo, que existia um segundo atirador...”

Alguém disse que nunca imaginara uma tragédia como esta acontecer aqui, porque Newtown é o lugar mais seguro da América.

“Não creio que isso exista, seja em que lugar da América for. É por isso que tentamos ensinar os nossos filhos para estarem preparados, independentemente de onde estejam ou onde quer que vivam”, diz Denise. “Especialmente depois do 11 de Setembro”, esta mãe sentiu necessidade de ter conversas com os filhos sobre o que fazer numa situação de emergência. “Temos sempre de ter um ponto de encontro para o caso de acontecer alguma coisa e não conseguirmos entrar em contacto uns com os outros. A ideia não é assustá-los – a ela ou ao meu filho –, mas ter um plano.”

Autocarro silencioso
“Uma pessoa pensa que é um sonho. Mas depois acordei esta manhã e não era um sonho”, diz Teresa Diamond, de 43 anos, motorista de um autocarro escolar em Newtown. Ela conduziu os alunos de volta a casa na sexta-feira à tarde, depois de terem estado horas retidos no interior da escola para a qual Teresa trabalha. “O meu autocarro nunca esteve tão silencioso como nesse dia”, diz. “Esta é uma comunidade onde toda a gente conhece toda a gente. Isto não devia ter acontecido aqui.”

Além do carrinho de bebé que Teresa puxou colina acima, a sua filha adolescente também veio com ela. Há, aliás, muitas crianças pequenas e adolescentes para onde quer que se olhe – porque não há como protegê-las da notícia ou porque, como disse Denise, é preciso que “estejam preparadas”.

“Foi a conversa mais difícil que alguma vez tive”, diz Eileen Vitarbo, educadora de infância, sobre a conversa que teve com a filha, Lin, de 11 anos. “Expliquei-lhe o que se passou de forma muito selectiva e deixei que fosse ela a fazer as perguntas. Não quis dar demasiada informação.”

Eileen foi educadora de infância de quatro das crianças que morreram no tiroteio. “Toda a gente aqui conhece alguém da Sandy School Elementary”, diz o marido, Ernie, um polícia. “Vamos ter umas semanas terríveis pela frente.”

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