Trump, o dia dos estreantes

"O mal do Obama é pensar mais nas minorias e menos em nós", dizem Anabel e Mark, que votaram Trump. Thomas também, depois de ter optado por Bernie Sanders nas primárias.

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Reuters

São 11h30 da manhã de dia 19. Faltam pouco mais de 24 horas para que sejam ditas as 35 palavras, em inglês, que marcam a entrada do novo residente na Casa Branca e que em português se traduzem assim: “Eu, Donald J. Trump, juro solenemente cumprir fielmente as funções de Presidente dos Estados Unidos e, com todos os meios ao meu alcance, salvaguardar, proteger e defender a Constituição dos Estados Unidos.” Anabel e Mark Seamus chegaram de comboio de Filadélfia para saudar o novo Presidente.

“O mundo já nos ensinou que a liberdade tem de ter limites. É preciso que alguém ponha alguma ordem e faça com que a América, e os seus valores e os americanos, sejam valorizados. Não queremos que o nosso país seja o refúgio de criminosos, de terroristas, de gente que vem trazer a desordem”, refere Anabel, 52 anos, secretária numa multinacional, residente em York, na Pensilvânia. Mark, dois anos mais novo, é motorista de um camião de distribuição alimentar e diz que nos últimos anos assistiu “à morte” da sua cidade. “Não há emprego, muita gente foi embora e chegaram imigrantes, muitos são clandestinos, não trabalham e este estado cuida mais deles do que de nós.”

Anabel e Mark são casados, votaram Trump e não se arrependem, mesmo depois de — dizem — “ele ter dito algumas coisas que nos preocupam”. Por exemplo? “Que pode mandar embora todos os muçulmanos ou acabar com o Obamacare. Temos bons vizinhos muçulmanos, que trabalham, são honestos. E também há a saúde — antes de Obama era tudo muito complicado com as seguradoras. O mal do Obama é pensar mais nas minorias e menos em nós.”

Anabel e Mark marcaram hotel em Washington logo após a vitória de Trump e é a primeira vez que vão assistir a uma tomada de posse. “Esperemos que a segurança funcione, porque há notícias de muitos protestos”, salienta Mark, enquanto consulta o mapa da cidade e acena um adeus com ar festivo.

Quase à mesma hora, começam a chegar ao número 1100 de Pennsylvania Avenue os primeiros convidados para o almoço com Donald J. Trump, uma das suas últimas aparições públicas antes da tomada de posse. A segurança à porta do recém-inaugurado hotel é presidencial. Mark ficaria aliviado ao saber que não há qualquer hipótese de furar a barreira.

Alguns curiosos estão do outro lado da avenida, tentam captar o máximo com telemóveis, fazem comentários — nota-se um pouco do aparato que tomou conta da Quinta Avenida em Nova Iorque, em frente à Trump Tower, desde as eleições, mas com muito menos passantes.

Thomas estava na Pennsylvania, mas desistiu de tentar ver qualquer coisa. Serve-se de um café num self-service ali perto, em New York Avenue. Cabelo louro, muito curto, olhos verdes, é estudante de economia. Tem 21 anos, é de Columbus, no Ohio, mas estuda na Universidade de West Virginia, em Morgatown, três horas e meia de carro a oeste de DC. Resiste em falar, mas lá diz: “Estive muito entusiasmado com Bernie Sanders, acho mesmo que teria votado nele. Acabei por votar em Trump.” Porquê? “Foi um protesto contra este sistema instalado. É preciso criar um movimento de mudança e, além disso, creio que é preciso algum proteccionismo económico. Ele é um empresário, não é político e acho que pode ser uma vantagem.” Dá um gole no café, cora um pouco, ajeita a gabardina no braço esquerdo. “Vim pela experiência. Foi a primeira vez que votei, o candidato em que votei ganhou e quero testemunhar este momento”, refere. “Mas estou um pouco ansioso. Já pensei várias vezes no meu voto, sobretudo quando ele faz declarações menos próprias sobre as mulheres e sobre os imigrantes.” E a política externa? “Não sei. Não pensei muito nisso. Penso primeiro no meu país.”

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