O big brother não está a resultar

Muitos meios, vigilância apertada e cada vez mais terrorismo

A facilidade com que estão a ocorrer atentados na Europa é cada vez mais preocupante. Este fim-de-semana houve mais dois, desta vez em Copenhaga, capital da Dinamarca. O primeiro, ocorreu sábado à tarde, num centro cultural onde se homenageavam os 12 jornalistas mortos em Janeiro, durante o ataque ao jornal Charlie Hebdo.

Entre os presentes estava o sueco Lars Vilks, perseguido pelos islamitas radicais pela autoria das primeiras caricaturas de Maomé, em 2007, e que as autoridades acreditam ser um dos alvos do atacante. O segundo aconteceu mais tarde, nas imediações de uma sinagoga. No total, morreram dois civis e cinco polícias ficaram feridos. O alegado autor dos ataques foi abatido pelas forças policiais na madrugada de domingo. Entretanto, neste domingo, a polícia alemã cancelou a realização de um desfile de carnaval numa cidade do Norte do país, proibição justificada por informações de “ameaça concreta” com “contornos islamistas”.

A multiplicação de actos terroristas é directamente proporcional à sensação de perigo iminente e às informações quase diárias de que foi abortado um atentado aqui ou desmantelada uma rede terrorista ali. O que torna cada vez mais claro quer o aumento exponencial do recrutamento, quer a facilidade com que se desencadeiam novas acções, as quais, como se tem visto ultimamente na Europa, são perpetradas apenas por um ou dois elementos.

Estes “lobos solitários” são muito mais difíceis de detectar e de controlar. Nascem justamente para fugir à sofisticação dos meios de vigilância de que as autoridades dispõem e têm menos capacidade para organizar acções de grande impacto como o 11 de Setembro ou os atentados em Londres, que exigem meios e logística complicada. Mas, em contrapartida, têm a possibilidade de multiplicar investidas e espalhar a sensação de terror e insegurança. Há ainda um outro problema acrescido: as células unitárias conseguem mais facilmente iludir as suas ligações dentro da rede terrorista, dificultando o trabalho de investigação policial. Isso está a acontecer agora, por exemplo, quando os investigadores tentam estabelecer conexões entre o autoproclamado Estado islâmico e a Al-Qaeda, até há pouco organizações rivais, mas sobre as quais as unidades de contraterrorismo encontram fios de contacto. Sinais de colaboração entre os dois grupos foram já detectados nos ataques de Janeiro, em Paris.

A resposta dos estados a esta escalada de terror e violência é clássica. Mais dinheiro e mais meios, diminuição de liberdades e garantias dos cidadãos, alianças espúrias com governos indiferentes ao respeito pelos direitos humanos mais básicos. Aqui ao lado, em Espanha, já foi instituída a prisão perpétua; na Europa, há quem advogue o regresso da pena de morte e por todo o lado crescem ameaças ao acordo de Shengen. A militarização do quotidiano é um facto e a monitorização do dia-a-dia dos cidadãos, uma realidade. Mas o big brother não está a resultar e tem de se perceber porquê antes de sufocarmos, de vez, a democracia.   

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