O antiterrorismo revisto e adaptado

O antiterrorismo dos novos tempos assemelha-se à busca de uma agulha num palheiro

A “campanha longa” de que falava Obama, referindo-se aos fanáticos do Estado Islâmico (EI), a mesma campanha para a qual admitiu depois não ter uma estratégia clara, é neste momento um cruzamento desarticulado de medidas avulsas. Os Estados Unidos optaram pelos bombardeamentos cirúrgicos, sem envolvimento de tropas no terreno, enquanto a Europa descobre, com indisfarçável temor, que vários dos seus países têm sido “ninhos” dos novos bárbaros arvorados em “salvadores”. Sim, há jihadistas oriundos de países da União Europeia e até há pelo menos doze de nacionalidade portuguesa. E se a descoberta não devia ser tão surpreendente (foi também na Europa que foram planeados os infames atentados do 11 de Setembro de 2001), a verdade é que a simples difusão deste facto reabre o dossier da desconfiança generalizada. Aprende-se a fazer terrorismo pela Internet — o que fazer com a Internet? Há gente perigosa a circular pelos aeroportos — o que fazer com a livre circulação de pessoas e bens no espaço comum europeu? Há potenciais inimigos da liberdade com passaportes da UE — como restringir ou confiscar os passaportes dessa gente? Posto isto na mesa, e porque os jihadistas não andam naturalmente identificados como tal, vamos ser tentados a desconfiar de quem “pareça” perigoso — embora com toda a probabilidade, tirando os que se exibem nos campos de combate ou na Internet, os mais perigosos tendam a evitar tal aparência. É nesse campo que agora se move David Cameron, tentando com um gesto de aparente força acalmar os que ouviram, com pavor e repugnância, o sotaque britânico do carrasco do jornalista norte-americano James Foley. Mas este antiterrorismo revisto e adaptado corre o risco de se transformar na busca de uma agulha num palheiro. Tirando os campos onde o EI combate, espalhando terror e morte à sua passagem, tudo o resto é um território de adivinhação. O pântano que o terror gera e no qual revive.

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