Número recorde de detenções em Ferguson e mais um morto pela polícia em St Louis

Tensão sobe com a morte de um jovem de 23 anos em St Louis. Foram detidas 78 pessoas na violenta noite de domingo.

"Párem de matar" pede um manifestante
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"Párem de matar" pede um manifestante Scott Olson/AFP
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A morte de um jovem negro, a tiro, pela polícia em St Louis, Missouri, fez subir de novo a tensão que se tem mantido durante os últimos dez dias, provocada pela morte de Michael Brown, em Ferguson.

Manifestantes têm pedido, dia após dia, mais informação e justiça sobre a morte de Brown, um jovem negro morto a tiro por um polícia branco. Mas estas têm tardado: as autoridades só revelaram dados sobre a morte depois de a família ter pedido uma autópsia privada (seis tiros, disparados de frente, dois na cabeça), e demoraram também uma semana a revelar o nome do polícia envolvido. Os protestos têm começado pacíficos mas acabado em motins, e a polícia altamente militarizada,com blindados mais habitualmente vistos em cenários de guerra, não tem ajudado – críticos dizem que tem mesmo contribuído para o exacerbar das tensões.

A polícia está ainda a deter pessoas em números recorde. Segundo registos obtidos por meios de comunicação social norte-americanos, na noite de domingo e madrugada de segunda-feira foram detidas 78 pessoas, a maioria por se recusar a dispersar. Nessa noite tinha sido imposto recolher obrigatório. A estação de televisão NBC diz que os registos das prisões contrariam uma versão anterior das autoridades, que falavam apenas em 31 detidos e diziam que a maioria era de fora da zona de Ferguson e St Louis. Afinal, apenas 18 tinham vindo de fora.

Na noite de terça-feira foram detidas mais 47. Não é claro quantas foram detidas entre os dois dias.

O recolher obrigatório foi entretanto cancelado e o governador chamou a Guarda Nacional, uma força de reservistas do exército e força aérea que pode ser deslocada em situações de emergência, para ajudar a controlar a violência. Mas apesar desta presença e dos apelos à calma, continuou a haver tiros, cocktails molotov, gás lacrimogéneo e cargas policiais.

Nova morte em St Louis
Enquanto isso, num outro protesto em St Louis, uma nova morte: um jovem de 23 anos que a polícia diz que tinha uma faca e “comportamento errático”. Os habitantes de um bairro de maioria negra onde o incidente ocorreu acusam a polícia de força excessiva. Por sua vez, as autoridades dizem que os agentes tiveram de disparar porque o jovem se aproximou com uma faca e recusou largá-la.

As versões, mais uma vez, são diferentes entre o que diz a polícia e o que dizem testemunhas. Doris Davis, 66 anos, contou ao jornal britânico Guardian que ia a passar na rua quando ouviu um jovem a gritar: “Não, não, não” e quando se virou viu-o ser atingidos por tiros da polícia – vários, numa sucessão rápida. A polícia diz que ele gritou: “Matem-me agora”. “Dizem que ele tinha uma faca mas eles podiam tê-lo atingido no pé”, reagiu Davis. “Não precisavam de o ter matado.”

Nos EUA, entre 2006 e 2012, a média de vezes em que uma pessoa negra foi morta a tiro por um polícia branco foi de duas por semana.

Nas manifestações, duas raparigas negras mostravam cartazes dizendo: “You will never know this feeling” (nunca saberás o que é sentir isto) e “You will never see through these eyes” (nunca verás através destes olhos). A revista satírica The Onion tinha um artigo com “dicas para ser um adolescente negro desarmado”, mostrando quão fácil é um jovem afro-americano ser tido como perigoso: “Assegura-te de que não pegas em nenhum objecto que possa ser confundido com uma arma de fogo como um telemóvel, comida, ou nada”; “tenta ver o ponto de vista da polícia: estás desarmado, mas és negro” ou ainda “evita usar roupa associada com gangues como t-shirts e calças”.

Ao contrário do que se passou com o caso de Treyvon Martin, morto por um tiro de um vigilante na Flórida em 2012, o Presidente Barack Obama não teve uma palavra especial (ele, Obama, poderia ter sido Martin, disse na altura) neste caso.

Contudo, cada vez mais pessoas se têm juntado ao debate. Na CNN, o actor da série "Anatomia de Grey" Jesse Williams, que é activista de uma organização de defesa dos direitos cívicos, denunciou que “uma certa parte deste país tem o privilégio de ser tratado como ser humano, e nós os restantes não somos tratados como seres humanos”, disparou. “Isso tem de ser discutido.”

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