Número de mortos no Bangladesh ultrapassa os 400

Novo balanço refere mais de 400 mortos e 149 desaparecidos. 1.º de Maio está a ser assinalado no país com protestos contra a queda do edifício onde funcionavam cinco fábricas e contra as condições de trabalho no Bangladesh.

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A população tem protestado contra as condições de trabalho no país, sobretudo na indústria têxtil MUNIR UZ ZAMAN/AFP

Um dia depois de as autoridades do Bangladesh terem anunciado que suspenderam as operações de busca de sobreviventes do edifício que ruiu há uma semana, um novo balanço indica que o número de vítimas mortais já ultrapassa os 400. Já o número de desaparecidos está por determinar, mas até ao momento foi possível recolher 149 nomes.

O 1.º de Maio no país está a ser assinalado de uma forma mais marcante que o normal, com milhares de pessoas nas ruas de Daca a pedirem a pena de morte para os donos das fábricas e do edifício onde estas funcionavam e a apelarem a melhores condições de trabalho num país onde estes incidentes são recorrentes. A edição online da BBC estima em 20 mil o número de pessoas presentes nas manifestações.

Apesar dos apelos à calma feitos pela primeira-ministra do país, Sheikh Hasina, os actos de violência na rua e contra fábricas continuam e as autoridades policiais temem que os ânimos aqueçam ainda mais neste 1.º de Maio, diz a AFP. À mesma agência, Kamrul Anam, dirigente de uma das associações têxteis do Bangladesh, disse que os trabalhadores do sector não vão aceitar uma condenação inferior à pena capital, uma vez que consideram que os seus colegas foram assassinados.

Protestos em mais países

Esperam-se também protestos semelhantes noutras zonas do país mas também da Ásia, nomeadamente na Indonésia, onde as condições precárias na indústria e os acidentes são uma constante.

Foi há precisamente uma semana que ruiu o edifício onde funcionavam cinco fábricas têxteis na localidade de Savar, nos arredores de Daca. Na véspera do incidente tinham sido detectadas graves fendas no edifício e um técnico que esteve no local recomendou uma evacuação imediata mas os alertas foram ignorados.

Depois de uma semana de trabalhos consecutivos na busca de sobreviventes, o general de brigada Ahmal Kabir, que dirigia as operações anunciou na terça-feira que todos os procedimentos iriam parar. As equipas de socorro começaram entretanto a usar maquinaria pesada para remover os escombros do edifício.

Também o Papa Francisco reagiu ao acidente no Bangladesh, condenando nesta quarta-feira o “trabalho escravo” a que são sujeitas muitas das pessoas que naquele país trabalham na indústria têxtil. Durante a sua homilia, o Papa destacou que na maioria dos casos as vítimas “viviam com menos de 38 euros” de salário por mês, o que considerou ser um valor pago a escravos.

Marcas como a Primark e o grupo de distribuição alimentar canadiano Loblaw já anunciaram que tencionam indemnizar as vítimas e suas famílias e ajudar a tomar medidas que permitam evitar a repetição de incidentes deste género. A associação do Canadá que representa o sector têxtil também se comprometeu a reforçar algumas linhas-mestras relacionadas com o fabrico de roupa nestes países.

Por seu lado, a União Europeia instou as autoridades do Bangladesh a cumprirem as condições de trabalho, nomeadamente em matérias de saúde e segurança, nas fábricas do país, numa mensagem conjunta da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e do comissário europeu do comércio, Karel De Gucht.

As Nações Unidas também tinham proposto o envio de uma equipa de peritos para o Bangladesh para ajudar nas manobras de salvamento, mas segundo a ONU o Governo rejeitou a oferta.

Alguns proprietários detidos

No domingo, a polícia já tinha conseguido deter o proprietário do edifício e antes tinha já prendido três donos das fábricas, bem como os engenheiros municipais. O empresário espanhol David Mayor, director-geral de uma das fábricas, a “Phantom-Tac”, é procurado pelas autoridades e encontra-se com paradeiro desconhecido. Mayor e os proprietários de quatro outras sociedades são alvo de um inquérito preliminar por “homicídio por negligência”, crime passível de cinco anos de prisão.

As autoridades declararam que os donos das fábricas ignoraram as fendas, que tinham aparecido um dia antes do acidente no edifício, e obrigaram os trabalhadores a entrar nas instalações. Este acidente voltou a chamar a atenção para as más condições laborais e de segurança dos trabalhadores de empresas têxteis no Bangladesh, que abastecem multinacionais ocidentais. As companhias internacionais que confirmaram a produção em alguma das empresas afectadas foram a irlandesa “Primark”, a espanhola “El Corte Inglés” e Mango, a canadiana “Joe Fresh” e a francesa “Bon Marché”, adiantou a Lusa.

O Bangladesh é o país do mundo com os custos de produção mais baixos na indústria têxtil, o que leva empresas de todo o mundo, incluindo da China, a mudar parte da produção para aquele país, de acordo com a organização não-governamental de defesa dos direitos dos trabalhadores têxtis Clean Clothes Campaign (Campanha Roupas Limpas). Dados da Federação de Trabalhadores do Sector Têxtil do Bangladesh, citados pela Lusa, indicam que nos últimos 15 anos cerca de 600 pessoas morreram e três mil ficaram feridas em acidentes registados em fábricas têxteis (incêndios ou derrocadas) no país.
 

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