NSA grava "cada uma das chamadas" feitas noutro país

Esta é a primeira vez que há notícia de que os EUA conseguiram apoderar-se da totalidade das comunicações de voz de uma outra nação.

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As chamadas interceptadas são armazenadas durante um mês Michael Dalder/Reuters

Os Estados Unidos estão a gravar “cem por cento” das chamadas telefónicas feitas num outro país, mantendo as comunicações disponíveis durante 30 dias, o que permite aos seus serviços secretos analisar conversas que decorreram antes de os alvos estarem sob suspeita.

A notícia é revelada pelo Washington Post, com base em documentos do ex-analista Edward Snowden, naquela que é a primeira confirmação de que a Agência de Segurança Nacional (NSA) conseguiu apoderar-se da totalidade das comunicações de voz de uma outra nação – cujo nome não é revelado, a pedido do Governo norte-americano. Até agora havia notícia de que a NSA interceptou milhões de telefonemas efectuados em países terceiros, mantendo sob escutas líderes políticos de países rivais e aliados, mas não na dimensão agora noticiada.

Além de potencialmente embaraçosa para os EUA, especialmente se for revelada a identidade do país visado, a revelação contraria também uma declaração do Presidente Barack Obama que, a 17 de Janeiro, garantia que os “EUA não estão a espiar cidadãos comuns que não representam uma ameaça para a segurança nacional”, independentemente da sua nacionalidade.

Segundo o jornal, o programa, conhecido pela sigla MYSTIC, começou a ser desenvolvido em 2009 e, dois anos depois, estava já a gravar "cada uma das chamadas" efectuadas no país visado. As gravações são armazenadas durante 30 dias num servidor temporário, que vai apagando as chamadas mais antigas à medida que as novas vão chegando.

Este servidor abre “uma porta para o passado”, lê-se num relatório secreto a que Snowden teve acesso, permitindo à NSA “recolher conversas de interesse que não estavam classificadas como tal no momento em que a chamada original foi efectuada”. Um responsável ouvido pelo Post fala também numa espécie de “máquina do tempo”, que permite às secretas norte-americanas reconstruir, através de telefonemas, os movimentos recentes de alguém que, de um momento para o outro, fica na sua mira.

O Post adianta que apenas 1% das chamadas são ouvidas pelos analistas da NSA, o que representa, ainda assim, uma enorme quantidade de gravações. Todos os meses milhões de fragmentos de conversas são transferidos para servidores onde ficam armazenados por prazos mais alargados. Os vários programas de recolha maciça de dados – seja de chamadas, emails ou metadados de comunicações online – estão a esgotar de tal forma a capacidade de armazenamento da NSA que a agência planeia abrir em breve um novo “repositório de dados” no estado do Utah.

Vários dos documentos a que o Post teve acesso indicam ainda que a NSA tem planos para estender o raio de acção do MYSTIC, pensado para visar apenas um país, a pelo menos outros cinco países, cujo nome não é igualmente revelado.

Questionada sobre esta nova prática de recolha maciça de dados, a porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA recusou comentar “actividades específicas das agências de informação”. Caitlin Hayden disse apenas que “novas ou potenciais ameaças” estão “muitas vezes escondidas no enorme e complexo sistema de comunicações globais e os EUA têm de, em determinadas circunstâncias, reunir quantidades maciças de dados para conseguir identificar essas ameaças”.
 

   





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