Ofensiva informática contra democratas rondou campanha de Clinton

Parece cada vez mais evidente que alguém quer influenciar as eleições americanas. Aanalistas suspeitam da Rússia, Julian Assange admite diferendos pessoais e políticos com Clinton.

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Spencer Platt/Getty Images/AFP

A campanha de Hillary Clinton à presidência dos Estados Unidos usava um dos programas informáticos recentemente pirateados em ataques aos servidores do Comité Nacional Democrata. A sua campanha assegura, contudo, que que os hackers que recentemente roubaram milhares de emails e informações importantes ao partido não conseguiram entrar nos seus próprios sistemas.

Dizem-no os especialistas contratados pela campanha, que, como explicou um dos seus porta-vozes, Nick Merril, “não encontraram provas de que os sistemas internos tenham ficado comprometidos”. Merril desmentia assim as primeiras notícias, que diziam que os servidores da campanha tinham sido invadidos pelos mesmos piratas responsáveis pelo primeiro ataque sistemático contra um grande partido americano em período de eleições e se suspeita possam estar ligados ao Governo russo.

O programa atingido continha informações sobre eleitores, era usado por várias instituições do Partido Democrata, mas não continha dados possivelmente comprometedores, como números de cartões de crédito ou da segurança social. Não é certo que este tenha sido um novo ataque e é possível que a invasão faça parte das investidas passadas contra os servidores democratas. Um responsável pela campanha de Clinton disse ao Washington Post que o material roubado “era sobretudo desinteressante e não incluía comunicações [internas]”.

Trata-se, porém, de um novo indício de que o Partido Democrata americano está a ser alvo de ataques informáticos sistemáticos, aparentemente concebidos para o prejudicar nas eleições de Novembro. O braço partidário que gere as operações de financiamento das campanhas para o Congresso, o DCCC, revelou na sexta-feira que também os seus sistemas tinham sido recentemente invadidos – este órgão, em conjunto com o Comité Nacional, também atacado, gere informações privadas sobre eleitores democratas.

A primeira invasão informática dos servidores do partido deu-se há cerca de um ano, segundo calculam os analistas de segurança ligados à investigação, mas as suas consequências só se revelaram há uma semana, antes do primeiro dia da Convenção Democrata, quando a Wikileaks publicou cerca de 20 mil emails roubados ao Comité Nacional. Entre eles encontram-se conversas que parecem provar que a máquina partidária tentou favorecer Hillary Clinton nas primárias contra o senador Bernie Sanders.

Em Bernieville, antes um terceiro partido do que Hillary Clinton

O escândalo provocou a demissão da presidente do partido, Debbie Wasserman Schultz, e irou os apoiantes de Sanders, com quem Clinton quer contar em Novembro e que há muito se queixavam de que as primárias não passavam de um embuste controlado pelas elites democratas. Os emails deram força à sua opinião, fomentaram a discórdia dos primeiros dias da Convenção Democrata na Filadélfia, acabando por beneficiar Donald Trump.     

Os insiders quase não têm dúvidas sobre quem está por detrás dos ataques informáticos contra o Partido Democrata. Numa reunião de emergência na Casa Branca, as agências de informação americanas afirmam terem “muita confiança” de que o Kremlin está envolvido e só não sabem se as operações são manobras rotineiras de espionagem ou se existe um esforço concertado para influenciar as eleições de Novembro, prejudicando Clinton e favorecendo Trump, que será o preferido de Moscovo.

A campanha de Trump nega qualquer aliança com o Kremlin, que, por sua vez, recusa estar envolvido em qualquer operação contra os Estados Unidos – o candidato republicano chegou a dizer que queria que a Rússia invadisse os polémicos servidores privados de Hillary Clinton, mas corrigiu-se, perante os protestos nos dois grandes partidos, argumentando que estava a ser “sarcástico”. Já o fundador da Wikileaks, Julian Assange, não esconde as intenções de prejudicar Hillary Clinton nas eleições de Novembro.

“Vemo-la como um pequeno problema para a liberdade de imprensa”, argumentava em Junho Assange, que disse ter divulgado os emails na véspera da convenção democrata para aumentar o seu impacto e admite que o seu diferendo com a candidata não é apenas político, mas também pessoal. Assange diz que Clinton é “uma intervencionista liberal”, autora da intervenção militar na Líbia, e que foi também uma das principais responsáveis por ter sido acusado de conspiração nos Estados Unidos. Um voto em Clinton, escreveu em Fevereiro no site da Wikileaks, é um voto numa "guerra estúpida e interminável".

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