Novas sanções americanas levam relações para "um beco sem saída", afirma Putin

Sanções aplicadas à Rússia por causa da guerra na Ucrânia chegaram a algumas das maiores empresas russas. UE também reforçou as suas medidas.

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O Presidente dos EUA acusa a Rússia de continuar a desestabilizar a Ucrânia Jewel Samad/AFP

Os Estados Unidos e a União Europeia apertaram o cerco económico à volta da Rússia, com a inclusão de algumas das principais empresas daquele país na lista de sanções por causa da guerra na Ucrânia. Depois do congelamento de bens pessoais de algumas figuras da política e da banca, que motivou comentários jocosos em Moscovo, o ataque concertado entre Washington e Bruxelas procura agora fragilizar o funcionamento da economia russa e as relações financeiras do país com o resto do mundo.

Ainda não chegou a vez da todo-poderosa Gazprom, mas a Casa Branca deu o sinal mais forte até agora de que a situação está cada vez mais perto do limite.

A prova de que as relações entre os Estados Unidos e a Rússia entraram definitivamente na fase mais delicada das últimas décadas reflecte-se na reacção do Presidente Vladimir Putin. Numa declaração invulgarmente dura, o chefe de Estado russo afirmou que o novo pacote de sanções vai levar as relações entre os dois países para "um beco sem saída".

Dura foi também a reacção do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, que acusou a União Europeia de "sucumbir à chantagem da Administração norte-americana, e de ir contra os seus próprios interesses", numa alusão ao facto de o bloco europeu ter uma ligação económica à Rússia muito mais forte dos que os Estados Unidos.

O comunicado do ministério russo deixa também um aviso contra aquilo que descreve como "uma tentativa primitiva de vingar o facto de os desenvolvimentos na Ucrânia não estarem a ir ao encontro do cenário definido por Washington”.

"Toda a gente sabe que as sanções são uma faca de dois gumes", lê-se no comunicado, citado pela agência Reuters, que deixa em aberto a possibilidade de a Rússia responder às medidas anunciadas pelos Estados Unidos e pela União Europeia. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Riabkov, disse à agência Interfax que a resposta de Moscovo será "dolorosa" para Washington.

Sanções "desadequadas"
As novas sanções europeias só serão conhecidas em pormenor no final de Julho, mas já é sabido que vão passar pelo alargamento da lista de empresas que os líderes europeus dizem estar a contribuir para a convulsão na Ucrânia, e também pela suspensão de empréstimos na Rússia por parte do Banco Europeu de Investimento e do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento.

Do outro lado do Atlântico chegaram as medidas mais pesadas desde o início da crise na Ucrânia, em finais do ano passado. Na prática, a ordem executiva do Presidente norte-americano impõe um corte no financiamento a médio e a longo prazo a quatro grandes empresas russas – a maior produtora de petróleo, a Rosneft; a segunda maior produtora de gás, a Novatek; o terceiro maior banco, o Gazprombank; e o banco Vnesheconombank, que é usado pelo Governo russo para pagar as pensões do Estado.

Para além destas quatro empresas, foram também incluídas na lista oito produtoras de armamento, como a empresa que fabrica a espingarda Kalashnikov.

O aperto das sanções à Rússia não chega ao ponto de congelar os bens da Rosfnet, da Novatek, do Gazprombank e do Vnesheconombank, nem de proibir as empresas norte-americanas de continuarem a fazer negócios com elas, mas as reacções que chegam de Moscovo mostram que o anúncio de Washington tornou tórrido um clima que já era quente.

"É óbvio que estas sanções são desadequadas, e é óbvio que não têm correspondência no quadro legal das relações internacionais, em particular na área da finança e da banca. Se não tomarmos medidas para travar este tipo de medidas unilaterais, poderemos ser confrontados com consequências devastadoras para o sistema financeiro global", disse à agência ITAR-TASS Andrei Kostin, presidente de um dos maiores bancos russos, o VTB.

Para justificar estas novas sanções, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acusou a Rússia de ter falhado o seu compromisso de ajudar a resolver a crise na Ucrânia. "Temos salientado a nossa preferência por uma solução diplomática, mas também temos dito que queremos ver acções concretas, e não apenas palavras, que provem que a Rússia está decidida a tentar pôr fim a este conflito na fronteira com a Ucrânia", disse. 

A estratégia é simples: isolar cada vez mais a Rússia e esperar que as consequências do garrote das sanções levem o Presidente Vladimir Putin a alterar a sua posição no conflito na Ucrânia.

Para além do isolamento económico, interessa também perceber o isolamento político de Moscovo em relação ao resto do mundo. Na semana passada, Vladimir Putin partiu para uma viagem pela América Latina, onde assinou acordos com aliados como Cuba e Venezuela. A nota que deu conta do périplo do Presidente russo salientava que a viagem iria decorrer "no actual contexto de tensão crescente com os Estados Unidos e a União Europeia".

Ouvido pela agência AFP, o director do instituto não-governamental russo PIR, Vladimir Orlov, disse que a viagem destinou-se "a fortalecer a viragem para a América Latina". E a explicação é simples: "Com a Rússia marginalizada na arena da política global, o mais lógico era que se voltasse para os seus parceiros naturais, que não têm nenhum preconceito ou intolerância contra o país, com renovada atenção e deferência."

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