Nova governante israelita diz que “toda esta terra é nossa”

Tzipi Hotovely, do Likud, diz que vai lutar para reconhecimento global dos colonatos judaicos, considerados ilegais pela lei internacional e até pelos aliados de Israel.

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Tzipi Hotovely faz parte da ala radical do Likud, o partido de Netanyahu Gali Tibbon/AFP

A "número dois" do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel começou o mandato com uma mensagem de desafio à comunidade internacional. “Esta terra é nossa. É toda nossa. E não estamos aqui para pedir desculpas por isso”, disse Tzipi Hotovely.

A responsável terá o papel de facto de chefe da diplomacia, já que é o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, quem ocupa esta pasta (deixou-a para si enquanto tenta convencer o líder dos trabalhistas, Isaac Herzog, a juntar-se ao seu governo, que tem uma estreita minoria).

Foi a segunda polémica em poucos dias de Governo – ainda na véspera Netanyahu ordenou a suspensão de um plano que levaria os palestinianos a usar autocarros diferentes dos frequentados pelos colonos israelitas, aparentemente por medo de pressão internacional.

No seu discurso aos funcionários do ministério, Hotovely disse ainda que Deus prometeu aquela terra aos judeus. Prometeu lutar para o reconhecimento dos colonatos judaicos na Cisjordânia, território ocupado por Israel. Estes colonatos são ilegais à luz do direito internacional, uma interpretação que nem os aliados de Israel contestam.

“Esperamos que a comunidade internacional reconheça o direito de Israel construir casas para os judeus na sua terra, em qualquer lado”, disse.

A construção nos colonatos foi o factor que levou os palestinianos a retirarem-se das conversações de paz, alegando que não têm condições para negociar enquanto a realidade no terreno vai sendo alterada com cada vez mais construção no território que seria o seu Estado – é como negociar a divisão de uma pizza enquanto uma das pessoas está a comer as duas metades, na metáfora de um dos negociadores.

Durante a campanha eleitoral, Netanyahu prometeu que não iria permitir o estabelecimento de um Estado palestiniano. Mal tomou posse, garantiu à chefe da política externa da União Europeia que se mantinha empenhado numa solução de dois Estados. Mas não há quaisquer perspectivas de negociação à vista depois do falhanço da última ambiciosa tentativa do secretário de Estado dos EUA, John Kerry.

O porta-voz de Netanyahu, Mark Regev, não comentou as declarações de Hotovely. Disse antes que as declarações de Netanyahu em relação ao empenho na solução de dois Estados eram a sua política. É ele o encarregado das linhas orientadoras, sendo Hotovely quem as gere no dia-a-dia.

Os casos dos autocarros e dos comentários da ministra são dois exemplos do difícil equilíbrio que Netanyahu terá de ter com um Governo dominado por uma direita pró-colonos e uma comunidade internacional em que começam a haver algumas acções que tentam obter tratamento diferente para os colonatos (a UE já decidiu não financiar instituições com sede nos colonatos, e há uma proposta em cima da mesa para promover uma rotulagem de produtos que diferencie os que vêm de Israel e os que vêm dos colonatos).

A maioria dos analistas antevê grandes problemas para manter este Executivo, mesmo a curto prazo.

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