Netanyahu, o demagogo perigoso

Netanyahu ganhou um mandato de quatro anos com votos de cérebros lavados.

Na história recente, não há eleições que tenham sido seguidas assim tão de perto por todo o mundo como foram as últimas eleições israelitas, a 17 de Março 2015. O mundo estava curioso sobre o destino de Netanyahu, o político mais arrogante e fabricante alguma vez conhecido na história de Israel.

Contra os interesses do próprio país, Netanyahu começou uma guerra contra o Presidente norte-americano, Obama, quem, com toda a sinceridade, serve a Israel e à sua segurança mais que o próprio arrogante primeiro-ministro israelita. Dirigir-se ao congresso norte-americano e espionar as conversas secretas iranianas e norte-americanas, para sua glória pessoal, é o estilo de Netanyahu de insultar os Estados Unidos da América e o seu Presidente.

Netanyahu ganhou um mandato de quatro anos com votos de cérebros lavados. Vítimas israelitas do medo e da ansiedade, do ódio e do desespero, que ele foi semeando entre elas durante os seus — até agora — nove anos no cargo. O jornal Haaretz comparou esses eleitores de direita com a mulher agredida que constantemente volta para o seu marido abusivo.

Em 1992, Netanyahu, então membro de Knesset, afirmou que dentro de três a cinco anos o Irão teria uma bomba nuclear e argumentou que esta era a maior ameaça para Israel.

“Netanyahu afirmou que Saddam também tinha armas químicas e biológicas (na verdade não tinha) e avisou que, no momento em que os Estados Unidos atacassem, Saddam iria lançar essas armas, contra Israel, e, mais interessante que tudo, previu que a queda de Saddam teria um efeito particularmente positivo em toda a região, podendo até mesmo levar à queda dos regimes do Irão e da Líbia.” (Haaretz, 08/03/2015)

Em 1996, ganhou as suas primeiras eleições através de um manifesto para destruir o Acordo de Oslo, supostamente, antes que este destruísse o Estado de Israel. Este manifesto, que foi publicado em 1993, sem dúvida, incentivou o assassínio do único político israelita visionário, o falecido primeiro-ministro Rabin. A 17 de Janeiro de 2002, Netanyahu disse a Jack Katzenell, da Associated Press, que o “Estado palestiniano nunca deverá ser estabelecido e que Yasser Arafat deve ser derrubado”.

A sua natureza racial ficou clara na véspera das eleições, quando fez um apelo de última hora aos seus apoiantes para irem às urnas, de forma a combaterem a elevada taxa de participação dos árabes israelitas. Esta natureza também foi afirmada quando saudou um rabino que apoiou um trabalho sobre as leis de matar os não-judeus. (Sefi Rachlevsky, 23/04/ 2013)

Por outro lado, a sua natureza fabricante ficou clara quando jurou que nunca iria permitir o estabelecimento de um Estado palestiniano, disse que, “certamente”, se fosse eleito, não haveria um Estado palestiniano. Uma promessa que contradiz o seu discurso em Bar-Ilan, em 2009, sobre os dois Estados a viverem lado a lado.

Em 1997, Sharon disse a Netanyahu (o então primeiro-ministro), “um mentiroso foste e um mentiroso permaneceste”. Alguns liberais e democratas viram um político com estas características como um demagogo perigoso, uma visão que faz com que Netanyahu seja considerado inapto para ser confiado como um parceiro para a paz na Terra Santa.

Netanyahu, nos próximos quatro anos de mandato, vai fazer tudo para perpetuar o actual statu quo, o que significa mais miséria e mais perdas de vidas inocentes de judeus, cristãos e muçulmanos que vivem na Terra Santa e além desta.

A imposição da ONU de uma resolução sob o Capítulo 7, para materializar a solução de dois Estados, na Terra Santa, com base no Direito Internacional, é a única ferramenta eficaz, não apenas para resolver a paz na Terra Santa mas também para derrotar o terrorismo. Porque a Palestina, que é ocupada por Israel, é um Estado que abriga os lugares cristãos e islâmicos mais sagrados.

Na realidade, está tudo nas mãos do galardoado com o Prémio Nobel, o Presidente Obama. Mas a grande questão é, será ele capaz de transformar em acções as palavras ditas pelo ex-secretário de Estado Dean Acheson: “A Carta da ONU foi uma versão condensada da filosofia política norte-americana”?

Embaixador da Palestina em Portugal

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