"Não sei o que dizer. Não sobrou nada"

Residentes de Moore não desistiram de encontrar sobreviventes durante toda a noite.

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Famílias aguardam por notícias dos seus filhos e amigos Gene Blevins/REUTERS

“Não sei o que dizer, estou em choque. É tudo muito intenso. Está tudo destruído, parece uma zona de guerra.”

Aos soluços, Joe Jolly, um residente da localidade de Moore, atingida por um poderoso tornado na noite de segunda-feira, tentava encontrar palavras para descrever o impacto da tempestade. “Não sobrou nada. Neste momento não tenho casa”, contou à rádio pública norte-americana NPR.

O quadro pintado pelos jornalistas das estações locais a partir de Moore, um subúrbio de 41 mil habitantes a cerca de 15 quilómetros de Oklahoma City, era de total destruição: todos os vidros de todas as janelas partidos, escombros e detritos por todo o lado, postes de electricidade caídos, incêndios, casas sem telhado ou que desabaram.

Em frente à escola primária Plaza Tower, que ruiu completamente, o repórter da estação de televisão local KFOR, Lance West, relatava com dificuldade a cena com que se deparou. “As paredes foram-se: as paredes de cimento com dez centímetros de espessura estão totalmente desfeitas.”

O pai de um menino de cinco anos que vive ao lado da escola, James Rushing, correu para lá assim que ouviu o alerta da aproximação de um tornado. “Julguei que esse seria o lugar mais seguro de toda a cidade, mas dois minutos depois de chegar lá, o edifício começou a desmoronar-se”, contou à Associated Press.

Bombeiros e pessoal de emergência mantiveram as missões de resgate e as operações de limpeza durante toda a noite. “Enquanto estivermos aqui, não vamos perder a esperança de encontrar sobreviventes”, explicou à Associated Press a porta-voz da patrulha rodoviária de Oklahoma, Betsy Randolph.

Os trabalhos, à luz de potentes holofotes, consistiam em desviar blocos de cimento, estruturas torcidas de ferro, peças de mobiliário, à procura de sobreviventes. Douglas Sherman, que mora a dois quarteirões da escola, passou a noite toda a ajudar. “Nem consigo imaginar o que terão passado estes miúdos, presos debaixo dos escombros, sem saber se iam escapar”, desabafou.

Durante a noite, na igreja Metodista Unida de St. Andrews, os nomes de alunos resgatados dos escombros e transportados para hospitais foram anunciados por megafone: várias famílias esperavam por notícias dos seus filhos e amigos – segundo as matrículas, a escola tinha 440 estudantes.

 Tonya Sharp esperou no centro paroquial pela chegada da filha de 16 anos, que quase caiu ao chão com o seu abraço. Ao seu lado, Deanna Wallace esperava idênticas boas notícias da filha de 17 anos, que sofre de epilepsia. “Não sei onde ela está”, repetia, cabisbaixa.

Uma outra mãe, Renée Lee, aguardava a chegada da filha Sydney, de 16 anos, que lhe tinha dito ao telefone que não valia a pena tentar ir buscá-la à escola antes da tempestade porque as estradas já estavam cortadas. Renée esperou em casa com a filha mais nova, de oito anos, que a tempestade passasse – a sua casa não foi atingida. Mas não sabia ainda o que tinha acontecido à mais velha: “Acredito que esteja bem. Espero vê-la a qualquer momento”. 

As equipas de emergência anunciaram esta manhã que sete crianças foram encontradas sem vida, provavelmente afogadas numa pequena piscina de água formada após o desabamento.

Segundo a polícia de Moore, o tornado atingiu duramente os edifícios de duas escolas e um hospital. O mayor Glenn Lewis, que é dono de uma ourivesaria na cidade, instruiu os seus funcionários a refugiarem-se na caixa-forte do estabelecimento.

As autoridades contabilizaram inicialmente 91 mortos, mas depois reviram para 24, embora admitam que o número possa ser mais alto. A Casa Branca decretou o estado de catástrofe em Oklahoma

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