ADN de Maria sem correspondência na base de desaparecidos da Interpol

Interpol não tem nenhum registo que correponda ao de Maria na sua base de dados. Mistério da menina, encontrada na semana passada num acampamento de ciganos, continua por esclarecer.

Foto
Maria com os falsos pais Polícia Grega/AFP

O mistério de Maria continua por desvendar. Na base de dados da Interpol não foi encontrada qualquer correspondência para o ADN da menina loura de olhos azuis que foi retirada na semana passada de um acampamento de ciganos na Grécia, por se suspeitar que tenha sido raptada.

A informação, citada pela CNN, foi avançada na terça-feira pelas autoridades. Assim que a polícia grega retirou Maria do acampamento deu seguimento aos primeiros testes que confirmaram que aqueles que diziam ser seus pais não eram de facto pais biológicos. Foram, aliás, as diferenças físicas de Maria que alertaram as autoridades que se encontravam no acampamento perto de Farsala, centro da Grécia, 280 quilómetros a norte de Atenas, no âmbito de uma outra operação e que acabaram por levar a menina.

“Até agora, uma comparação do perfil da menina com a base de dados global de ADN da Interpol não permitiu encontrar qualquer correspondência”, adiantou a autoridade internacional que foi chamada a colaborar no caso pela Grécia. A Interpol vai também tornar possível que qualquer pessoa que suspeite poder ser familiar da criança e que se sujeite a um teste de ADN no seu país possa depois comparar os dados com os que estão na posse desta polícia.

Ao todo a agência tem na sua base de dados uma lista de mais de 600 pessoas dadas como desaparecidas – 32 das quais com idades entre os cinco e os seis anos, a que terá Maria, apesar de inicialmente se pensar que teria apenas quatro.

Caso suspeito na Irlanda
O caso de Maria está também a servir de alerta para outras situações semelhantes a nível internacional. O diário britânico Guardian avança na edição online que uma outra menina loura de sete anos foi também retirada de uma família de ciganos em Dublin, na Irlanda, depois de a polícia ter recebido um alerta. Tal como na Grécia, o casal que estava com a menina garantiu que esta era sua filha mas as autoridades dizem que há vários dados que não coincidem. A menina foi entregue a autoridades de saúde e vão ser feitos de ADN.

Entretanto, o Supremo Tribunal da Grécia ordenou na terça-feira uma investigação a todas as certidões de nascimento passadas nos últimos seis anos com base em declarações dos pais e não em registos de hospitais e maternidades. Isto porque os magistrados consideram que o “caso Maria” não é um episódio isolado e pode ter-se repetido por todo o país.

Uma inspecção preliminar aos registos concluiu que o número de nascimentos registados com base numa declaração assinada por um dos pais – ou seja, em supostos casos de crianças que terão nascido em casa – está a aumentar vertiginosamente. Foram 50 em 2011, 200 em 2012 e 400 no decorrer deste ano.

Os juízes, e os investigadores, querem determinar o que se passa e se há, entre estes nascimentos, casos de rapto e de tráfico humano, e ainda que papel têm estes crimes na fraude à segurança social – suspeita-se de que as crianças possam estar a ser usadas para as famílias receberem subsídios, sendo que algumas crianças só existem no papel, recebendo os pais os respectivos abonos.

A instituição que está a acolher Maria já recebeu milhares de chamadas com tentativas de ajuda para se chegar aos pais da criança. A polícia ainda não conseguiu descobrir a identidade da menina, mas suspeita-se que tenha sido vítima de rapto ou envolvida numa rede de tráfico de crianças, relata a BBC. As autoridades gregas lançaram um apelo para que todos os que pudessem ter pistas sobre o possível paradeiro da família ou as circunstâncias em que a criança foi parar ao acampamento contactassem a organização.

Os únicos dados avançados é que tem pele branca, um metro de altura e 17 quilos. Inicialmente disse-se que teria nascido em 2009, mas afinal será mais velha e terá cinco ou seis anos. Outra hipótese colocada pelos investigadores é que a criança seja oriunda do Norte ou Leste da Europa.

A BBC contou que os agentes suspeitaram do enorme contraste físico entre a criança de cabelos louros e olhos azuis e os pais. E que ficaram ainda mais desconfiados quando analisaram os documentos da família — o casal registou diferentes crianças em diferentes registos familiares regionais. A mulher alegou também ter dado à luz seis crianças num período de dez meses. No total, o casal, ela com 40 anos, ele com 39, alega ter 14 filhos. Incluindo Maria, tinha actualmente quatro consigo.

O próprio casal vacilou na explicação sobre a origem da criança. Segundo informações já antes avançadas pelo director da polícia da província de Thessalia, Vassilis Halatsis, primeiro terão dito que encontraram Maria num cobertor mas, depois, disseram que a menina lhes tinha sido entregue por estranhos, que tinha pai estrangeiro e, por fim, que tinha sido a mãe que pouco depois de na menina nascer a tinha entregado por falta de capacidade financeira.

Falsos pais acusados e em prisão preventiva
Ficaram presos, por suspeita de rapto de menor e falsificação de registos e foram presentes a tribunal na segunda-feira, sendo acusados de sequestro e ficando em prisão preventiva. Além de sequestro, os dois suspeitos são acusados de falsificação de documentos, revelou o advogado Kostas Katsavos à saída da audiência, explicando que em causa está um falso registo de nascimento da criança.

Em tribunal, o falso pai repetiu a versão de que a menina lhe foi confiada à nascença “pelo seu pai biológico, um romeno de etnia cigana, e pela mãe, também cigana”, explicou Katsavos.

À AFP, os advogados do casal insistiram que a menina nunca foi raptada ou roubada e que apenas ficaram a tomar conta dela porque em 2009 a mãe biológica não podia tomar conta dela e decidiu entregá-la pouco depois de nascer.

A notícia está também a gerar reacções por parte da comunidade cigana, com uma associação de Farsala a dizer que o casal detido tratava Maria ainda melhor que os seus próprios filhos e que a amavam. Temem também que esta notícia gere uma onda de discriminação contra a comunidade que vive naquele país.

Motivo de discussão é também a facilidade em obter documentos oficiais para crianças, mesmo quando não há qualquer parentesco com elas. “Estamos chocados com o quão fácil é registar crianças como se fossem delas próprias”, disse Costas Giannopoulos à televisão grega Skai. “Há muito mais a investigar... Acredito que a polícia irá desvendar uma trama que não tem apenas a ver com esta menina.”

Sugerir correcção
Comentar