Na Síria, as crianças morrem a caminho da escola ou na fila para o pão

O Oxfam Research Group analisou como e onde morreram as mais de 11 mil crianças vítimas da guerra. São apanhadas por bombas ou fogo cruzado, mas também são alvo de tortura e execuções.

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"O mundo tem de se interessar mais pelo impacto deste conflito nas crianças da Síria", diz uma dos responsáveis por esta investigação Yazan Homsy/Reuters

O cenário apresentado não fica completo porque é impossível entrar em todos os cantos da Síria. Mas os dados não se revelam, por isso, menos impressionantes quando se trata de perceber de que forma morreram as mais de 11 mil crianças e adolescentes com menos de 17 anos nos últimos dois anos e meio de guerra.

Foi o que fez o instituto de pesquisa britânico Oxfam Research Group que publica, neste domingo, um estudo intitulado Futuros Roubados: O balanço escondido das mortes de crianças na Síria, disponível para consulta no site do próprio instituto. Os autores mergulharam nos dados, para extrair, mais do que números – aterradores, por si –, o que está por detrás deles, ou seja, como e onde as crianças morreram, durante um conflicto em que já perderam a vida mais de 113 mil civis e combatentes.

Na maioria, as crianças e adolescentes foram vítimas de bombas ou outras armas explosivas – mais de 7500 das mais de 10.500 mortes registadas em crianças, ou sete em dez crianças. Mas muitas – cerca de um em quatro crianças – não foram apanhadas pela violência, mas alvo dela. Em 389 casos, as crianças ou adolescentes foram mortos por atiradores furtivos (snipers); 764 foram vítimas de execução sumária, e entre estas, há registo de 112 mortes por tortura. A cidade de Alepo no Norte e o distrito de Dara, no Sudoeste da Síria, foram particularmente martirizados.

Perturba a forma como foram mortas
“Aquilo que mais perturba nos resultados deste trabalho é não só o número impressionante de crianças mortas neste conflito, mas a forma como foram mortas. Bombardeadas nas suas casas, nos seus bairros, durante as habituais actividades quotidianas, como ir à escola ou estar na fila de espera para comprar pão; mortas a tiro em fogo cruzado, alvos de snipers, vítimas de execuções sumárias, gaseadas ou torturadas”, diz Hana Salama, co-autora do relatório, citada no comunicado à imprensa disponível no site da instituição.

Entre as vítimas, encontram-se muitas crianças, mas os rapazes adolescentes constituem a maioria e quem, neste grupo, está exposto aos maiores riscos. Os rapazes entre os 13 e os 17 anos são as vítimas mais frequentes de mortes selectivas, como as que envolvem os atiradores furtivos, as execuções ou a tortura. Andam nas ruas sozinhos e estão em idade de combater, nota a BBC que chama a este conflito a “guerra contra a infância”.

“O mundo tem de se interessar mais pelo impacto deste conflito nas crianças da Síria”, acrescenta o co-autor Hamit Dardagan do relatório. “Este triste e terrível cenário mostra também por que uma paz duradoura, sem mais bombas ou balas, será a única forma de garantir a segurança das crianças.”
 

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