Muito caminho pela frente na marcha dos EUA pela justiça racial

Escritor Richard Zimler receia que o fim da desconfiança entre as comunidades branca e negra esteja a "décadas" de distância.

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Manifestação desta segunda-feira em Ferguson na sequência da morte de Michael Brown, abatido por um polícia Scott Olsen/Getty Images/AFP
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Confrontos em Ferguson na noite de sexta-feira Scott Olsen/Getty Images/AFP
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Martin Luther King, em Washington, onde terminou a marcha pelos direitos civis de 1963 AFP
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Imagem de vídeo registado por testemunha do espancamento de Rodney King pela polícia de Los Angeles, em 1991
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Protestos de 2012 em Nova Iorque contra a morte de Trayvon Martin Mario Tama/Getty Images/AFP
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Manifestação de domingo em Los Angeles, onde a polícia abateu Ezell Ford Lucy Nicholson/Reuters
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Richard Zimler é um dos participantes no congresso The Child and the Book REUTERSMiguel Vidal

Os acontecimentos de Ferguson não surpreenderam o escritor Richard Zimler, para quem a superação da desconfiança recíproca de comunidades negras e brancas dos Estados Unidos ainda “vai levar décadas” a concretizar.

Nascido num subúrbio de Nova Iorque, em 1956, e radicado no Porto desde 1990, o autor de dupla nacionalidade, americana e portuguesa, até reconhece “os progressos registados” no caminho da justiça racial, desde o Movimento dos Direitos Civis e da Marcha sobre Washington, protagonizada por Martin Luther King nos anos 60.

“Figuras populares [e negras] como Ophra Winfrey e Denzel Washington têm ajudado muito. Surgiu uma geração de políticos negros e hoje a Presidência é ocupada por um negro. Mas ainda há comunidades retrógadas que associam os negros ao crime”.

“Há muitas localidades 100% brancas, onde há zero negros. E vice-versa. Um jovem negro num bairro branco vai ser imediatamente visto como um ladrão ou traficante. Os polícias vão parar o carro junto dele, perguntar-lhe o que está ali a fazer e, se não considerarem as suas respostas satisfatórias, levá-lo-ão para a esquadra.” Os jovens negros têm esse sentimento muito presente, os brancos não acreditam que seja bem assim, “porque não têm esta vivência nem amigos negros”, assegura o escritor.

Richard Zimler também nota que muitas das cidades, como Los Angeles, onde o espancamento de Rodney King deu origem a graves motins em 1991, têm corpos de polícia com fama de não gostarem muito de negros, gays ou judeus.

Os smartphones deixaram as comunidades menos isoladas, assinala o escritor. Casos como os de Trayvon Martin, em 2013, de Ezell Ford, no passado dia 11, ou de Michael Brown são agora imediatamente mediatizados: “Chocam as pessoas e tornam impossível negar que há abusos.”

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