Mr. Trump, está despedido, diz o Partido Republicano ao candidato desbocado

As críticas a Donald Trump e os apelos a que desista das primárias nos EUA surgem de todos os lados, depois de ter posto em causa o heroísmo do senador John McCain no Vietname.

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Donald Trump tem beneficiado da sua fama mediática Scott Olson/AFP

O Partido Republicano em peso está a dizer ao milionário norte-americano Donald Trump que desista de tentar ser o escolhido para se candidatar às eleições presidenciais de 2016 pela direita americana. O que virou o partido contra ele foi ter posto em causa o heroísmo do senador John McCain, prisioneiro de guerra durante cinco anos e meio no Vietname.

Não foi por ter dito que a maioria dos imigrantes ilegais “são traficantes, assassinos, violadores”. Isso, aliás, pode ter sido o que o levou ao topo das preferências dos republicanos, segundo uma sondagem Washington Post/ABC News (WP/ABC) conhecida nesta terça-feira: tem 24% das preferências de voto, quase o dobro do segundo, o governador do estado do Wisconsin, o muito conservador Scott Walker, com 13%. Jeb Bush, irmão do ex-Presidente George W. Bush, surge em terceiro, com 12%.

Mas sondagens imediatas feitas no fim-de-semana, logo a seguir a Trump ter atacado McCain, mostram-no a descer a pique – o fenómeno do milionário desbocado estará a dar os últimos estertores, dizem os analistas.

 A guerra aberta entre o empresário da construção civil e o senador do Arizona deflagrou na semana passada, quando John McCain comentou que as declarações de Donald Trump sobre os imigrantes – que incluíam a intenção de construir um muro para travar as entradas ilegais nos Estados Unidos – “tinham aberto as portas aos malucos”.

Trump, que não prima pela sensibilidade nem pelo bom gosto, como se pode ver na série The Apprentice, respondeu no sábado. Com um supremo insulto, atacou o estatuto de herói de McCain, que foi prisioneiro de guerra e torturado. Podia ter sido libertado mais cedo, por ser filho de um almirante, mas recusou-se. “Ele é um herói de guerra porque foi capturado. Eu gosto de pessoas que não são apanhadas, OK?”, disse Trump.

O Partido Republicano manteve-se quieto quando, no início do mês, Trump chamou “traficantes, assassinos, violadores” aos imigrantes latino-americanos – ainda que para ganhar as presidenciais, a direita americana precise de conquistar este eleitorado, em vez de o insultar. E a última sondagem WP/ABC mostra que a visão de Trump sobre os imigrantes ilegais não é partilhada pela maioria dos americanos: só 16% consideram que são sobretudo “pessoas indesejáveis, criminosos”. Mesmo entre os republicanos, 66% consideram que os latinos que imigram são essencialmente pessoas honestas. Só 19% dizem que são indesejáveis.

Sondagens acima e abaixo

Apesar disso, Trump subiu nas sondagens – à força de exposição mediática, por explorar o descontentamento com a política de imigração levando-a um absurdo, por se tornar ele um espectáculo. A sua popularidade parece dever-se mais ao facto de ser um nome conhecido, escreveu Harry Henten no site Fivethirtyeight. Só 34% dos republicanos pensam que a visão do mundo de Trump reflecte os valores de base do Partido Republicano, diz a sondagem WP/ABC e a maioria, 54%, acha que não reflectem de todo. Na verdade, 51% não votariam nele, mesmo que fosse o candidato designado pelo partido para as presidenciais.

O site Huffington Post assumiu que o milionário se tornou num palhaço político: anunciou que passaria a cobrir a sua campanha na secção de entretenimento, e não na política. “Se está interessado no que ‘The Donald’ tem a dizer, encontrá-lo-á ao lado das nossas histórias sobre os Kardashians”, escrevem os editores.

Após o ataque a McCain, o partido começou a unir-se contra Trump – que conseguiu escapar ao recrutamento obrigatório durante a guerra no Vietname, diga-se – e surgem apelos a que saia das superpovoadas primárias.

“Não há lugar no nosso partido para comentários que menosprezem os que serviram com honra”, afirmou no Twitter Sean Spicer, porta-voz do Comité Nacional Republicano. “Esta é a grande oportunidade para os candidatos evidenciarem contrastes nítidos sobre a direcção que pensam que o partido deve tomar”, comentou à CNN Kevin Madden, ex-conselheiro político de Mitt Romney.

E os candidatos não se fizeram rogados. Rick Perry, ex-governador do Texas e veterano da Força Aérea, que está muito em baixo nas sondagens, apelou a que Trump “saia imediatamente” das primárias. Jeb Bush quer que “acabem imediatamente estes ataques caluniosos” e o senador Lindsey Graham, um amigo próximo de McCain, afirmou que Trump “cruzou uma linha que é ofensiva para quase toda a gente”, e previu que os americanos terão uma mensagem para o milionário: “Está despedido.”
 

   

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