Mossad recruta em grupo iraniano fazendo-se passar pela CIA

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Espiões israelitas fizeram-se passar por agentes da CIA Alex Wong/AFP

Agentes dos serviços secretos israelitas levaram a cabo recrutamento de operacionais de um grupo terrorista iraniano, o Jundallah, fazendo-se passar por espiões estrangeiros, mas da CIA.

A história foi desenterrada dos arquivos dos serviços secretos norte-americanos por um jornalista da revista "Foreign Policy".

O recrutamento descrito foi feito durante a presidência de George W. Bush, mas a revelação surge dois dias depois do assassínio de um cientista nuclear em Teerão, um crime pelo qual a Mossad foi a primeira suspeita mas no qual houve quem visse uma possível mão norte-americana.

Os EUA são há muito suspeitos de dar apoio ao grupo Jundallah, um grupo sunita que reivindicou vários ataques no Irão. O grupo é responsável pelo assassínio de responsáveis governamentais iranianos, e ataques com explosivos que mataram civis iranianos, incluindo mulheres e crianças.

O regime iraniano alegou que o grupo, formado em 2002 e que começou uma campanha armada em 2005, era apoiado por forças estrangeiras, apontando o dedo tanto à Al-Qaeda como aos Estados Unidos, ao Paquistão ou ao Reino Unido.

Os agentes israelitas, com dólares e passaportes americanos, levaram a cabo as operações de recrutamento sem fazer grandes esforços para que os americanos não descobrissem, nomeadamente em Londres, descrevem os agentes no memorando.

Bush ficou furioso

Também descrevem que o Presidente Bush ficou “absolutamente furioso” quando ouviu o relato: afinal, o alegado apoio dos EUA a este grupo estava-lhe a causar dificuldades no Paquistão, que estava a sofrer pressões do Irão para combater este grupo, que tem bases na fronteira entre o Paquistão e o Irão.

Mas apesar de haver quem na Administração defendesse agir contra Israel, uma mistura de inércia e burocracia fizeram com que permanecesse o statu quo.

A mudança surgiu com a Administração Obama que cortou drasticamente a quantidade de informação sobre o Irão que era partilhada com Israel, diz o artigo da "Foreign Policy", e juntou o grupo à sua lista de organizações terroristas.

As operações de espiões fazendo-se passar por agentes de outro país são comuns. Os agentes do país A disfarçam-se de agentes do país B para realizar acções no país C. O objectivo é normalmente que o país visado, o C, acredite que está a ser sabotado pelo país B e eventualmente retalie contra este. Neste caso, a ideia seria apenas que Israel levasse a cabo acções de sabotagem no Irão sem despertar suspeitas do seu envolvimento.

Recrutamento no Curdistão

De qualquer modo, neste momento, após o assassínio de vários cientistas iranianos com métodos que até a imprensa israelita diz serem típicos da Mossad, a intervenção israelita no Irão é quase dada como certa. Um responsável terá afirmado numa sessão parlamentar à porta fechada que o Irão deveria esperar mais acontecimentos "não naturais" no próximo ano, segundo os media israelitas.

Esta semana, uma notícia do diário francês "Le Figaro" dava conta de operações de agentes da Mossad no Curdistão iraquiano, onde recrutavam e treinavam dissidentes iranianos para acções contra o regime de Teerão.

A Mossad já usou passaportes de outros países para levar a cabo operações no estrangeiro. Um caso que ficou famoso foi o do assassínio, num hotel de luxo no Dubai, de um comandante do Hamas, no início de 2011. Israel utilizou passaportes forjados de americanos, irlandeses, britânicos e um documento real de um alemão.

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