A Alemanha debate até onde deve ir a coragem por causa da morte de uma jovem agredida após intervir quando um grupo de homens assediava duas mulheres numa casa de banho de um restaurante.

Tugce, 22 anos, ficou em coma depois de ser violentamente agredida no parque de estacionamento em Offenbach, perto de Frankfurt. No dia do seu aniversário, os pais decidiram desligar a máquina.

Duas semanas antes, a jovem, alemã de origem turca, estava num McDonald’s quando se ouviram gritos de ajuda vindos da casa de banho no andar de baixo. Duas raparigas eram assediadas por um grupo de três homens. Era fim de noite, altura em que muitos jovens vindos de discotecas costumam parar para comer qualquer coisa antes de ir para casa. 

Os gritos repetiram-se e ninguém fez nada.

Tugce interveio, e o assédio parou. Não se sabe exactamente o que aconteceu entre o final do espisódio e a altura em que Tugce saiu, mas quando a jovem foi para o estacionamento, tinha um dos jovens do grupo à sua espera para a agredir. Depois de algumas pancadas violentas, Tugce cai e ouve-se um baque. Tinha batido com a cabeça numa pedra ou no asfalto e ficado inconsciente. Na quarta-feira foi declarada a morte cerebral e os pais informados da irreversibilidade do seu estado. Na sexta-feira, os pais decidiram desligar as máquinas que a mantinham viva.

O caso despertou uma onda de comoção na Alemanha: uma petição assinada por mais de 100 mil pessoas pediu ao Presidente alemão, Joachim Gauck, para dar a título póstumo a medalha de mérito da república a Tugce. Gauck, que escreveu uma carta de condolências à família, disse que estava a analisar o caso e se Tugce seria elegível para a distinção.

“Quando outras pessoas olhavam para o lado, Tugce mostrou coragem exemplar e rectidão moral”, disse Gauck, acrescentando que a jovem “será sempre um exemplo, o país inteiro está de luto”.

Este domingo há um tributo a Tugce em Berlim.

A coragem cívica ou moral (Zivilcourage), ou coragem fora do campo de batalha como a definiu Bismark, tornou-se tema de debate. Na Alemanha, há campanhas para aumentar a reacção de cidadãos a comportamentos criminosos, com cartazes nos transportes públicos pedindo: “Se vês algo, faz algo.” A imprensa debate as consequências deste caso: fará com que as pessoas pensem duas vezes antes de ajudar alguém?

O McDonald’s, cujos empregados foram acusados de ouvir os gritos das raparigas e nada fazer, defendeu a não intervenção dos funcionários.

O suspeito de ter atacado Tugce é um jovem de 18 anos de origem sérvia e está detido, tendo já admitido a agressão. Ninguém sabia ainda, no entanto, nada sobre as duas raparigas que a jovem foi ajudar.

O pai de Tugce já pediu que as duas jovens contactassem a polícia para depor. Mas estas poderão ter medo de o fazer, diz o jornal alemão Die Welt, já que é provável que não tivessem ainda 18 anos e tivessem bebido.