Morsi avisa que o Egipto corre risco de "paralisia"

Tensão cresce no país antes de um fim-de-semana de grandes manifestações contra e a favor do Presidente, que cumpre um ano de poder. Chefe de Estado admite emendas à polémica Constituição, mas deixa também ameaças aos seus opositores.

Morsi admitiu ter cometido muitos erros durante o primeiro ano de mandato
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Morsi admitiu ter cometido muitos erros durante o primeiro ano de mandato AFP/Presidência do Egipto
Enquanto Morsi falava, centenas de opositores juntavam-se na praça Tahrir
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Enquanto Morsi falava, centenas de opositores juntavam-se na praça Tahrir Amr Abdallah Dalsh/Reuters

O Presidente egípcio avisou que a constante instabilidade e as divisões ameaçam “paralisar” e lançar o país “no caos”. Uma advertência lançada num discurso para assinalar um ano de mandato – motivo para um fim-de-semana de manifestações no Egipto –, durante o qual Mohammed Morsi admitiu ter cometido alguns erros, ao mesmo tempo que deixou ameaças àqueles que diz estarem a tentar “boicotar” a revolução.

Enquanto Morsi falava, centenas de opositores juntavam-se na praça Tahrir, epicentro da revolução que em 2011 levou ao derrube do ex-Presidente Hosni Mubarak, vigiados por um forte dispositivo militar. No Norte do país, violentos confrontos entre apoiantes e opositores de Morsi, na cidade de Mansoura, fizeram pelo menos dois mortos e perto de 200 feridos, numa antecipação do que poderão ser os próximos dias no país.

Tentando acalmar a contestação, Morsi admitiu que não está isento de culpas no que de mal correu nos últimos 12 meses – “Fiz muitos erros, isso é incontestável” – e pediu desculpa por não ter incluído como devia a juventude revolucionária nas reformas em curso e pela escassez de combustível, um problema que se agravou nas últimas semanas provocando longas filas nas cidades e muita contestação ao Governo.

No mesmo sentido, anunciou que vai convidar os líderes dos partidos para escolherem em conjunto o presidente de uma comissão a quem encarregará de preparar emendas à nova Constituição, aprovada em referendo mas alvo de forte contestação por parte dos movimentos seculares, dos activistas jovens e das minorias. Prometeu ainda a criação de uma comissão para promover a reconciliação num país profundamente dividido entre os apoiantes da Irmandade Muçulmana, o movimento de Morsi e da maioria no Parlamento, e a fraccionada oposição secular.  “Digo à oposição, a estrada para a mudança é clara. A minha mão está estendida”.

Mas nas duas horas do discurso houve também tempo para deixar recados – muitas vezes em tom de ameaça – aos que contestam a sua presidência. “Os inimigos do Egipto não poupam esforços para sabotar a experiência democrática”, afirmou, antes de nomear alguns políticos, juízes e jornalistas a quem acusou de “quererem pôr o relógio a andar para trás”, fazendo o Egipto voltar a era de Mubarak.

A tensão no país aumenta à medida que se aproxima a manifestação agendada para domingo, dia em que Morsi cumpre um ano de poder. O protesto foi convocado pelo Tamarrod, um movimento criado em Abril para exigir o afastamento do Presidente islamistas e que diz ter já conseguido reunir 13 milhões de assinaturas pedindo a realização de presidenciais antecipadas.

Antes disso, a Irmandade Muçulmana pretende fazer uma demonstração de força, reunindo grandes multidões em apoio ao Governo e ao Presidente em várias partes do Cairo após as orações semanais de sexta-feira.

Antecipando confrontos, o Exército reforçou a sua presença em zonas chave da capital (bem como nas principais cidades do país) e o chefe do Estado-Maior avisou que os militares não vão permitir que o país seja arrastado para um “conflito incontrolável”.

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