Morrer a fugir da morte

“Perda de uma embarcação por acidente no mar” é a definição de “naufrágio”, a palavra da semana. Gostaríamos que fosse mais feliz do que a da semana anterior, “desumanidade”, mas o mundo não deixa.

Eis a notícia que ditou a escolha: “Era um dia calmo quando o barco se lançou à água de um porto na Líbia para fazer mais ou menos 300 quilómetros até ao Sul de Itália. A rota é uma das mais procuradas e uma das mais mortíferas. Não foi a única embarcação a ir; mas, em menos de 24 horas, ficou em apuros. Os detalhes são escassos, mas pensa-se que a causa do naufrágio possa ter sido que, ao ver um navio comercial perto, a maioria dos passageiros foi para um dos lados, levando o barco a virar-se. Quando a guarda costeira italiana chegou, resgatou 145 pessoas, levou nove cadáveres, e desde então não foram encontrados mais corpos ou sobreviventes. Podem ter morrido entre 350 e 400 pessoas.”

Sinónimos de naufrágio: “desgraça”, mas também “fracasso”. Têm fracassado as operações de resgate. Primeiro, a italiana Mare Nostrum; depois, a europeia Tritão. O negócio e a tragédia continuam. A desumanidade também.

“O medo de morrer não é dissuasor”, comentou a porta-voz do Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados na Europa do Sul, Carlotta Sami. O desespero foi registado pelo diário The Guardian, na voz de um sírio que se prepara para sair do Egipto. “Mesmo se houvesse uma decisão dos Governos de afundar os barcos com migrantes, ainda haveria pessoas a ir de barco, porque muitos consideram-se já mortos.”

Desde Janeiro, 900 pessoas terão perdido a vida a tentar entrar por mar na Europa. A alternativa é morrer na outra margem.

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