Montebourg não fica a falar sozinho

Sai Valls, entra Valls. Montebourg sai do Governo francês, mas não fica a falar sozinho.

Depois da demissão de Ayrault após a derrota nas autárquicas, François Hollande escolheu Manuel Valls para aquilo que o próprio classificou como um "Governo de combate”. Durou 147 dias. E o combate que se adivinhava contra a UMP ou a Frente Nacional não passou de um combate interno entre uma ala mais liberal do PS francês e outra mais à esquerda da qual fazem parte Arnaud Montebourg e o até agora ministro da Educação, Benoît Hamon.

No PS francês, muitos defendem um alívio da austeridade, embora uns mais às claras do que outros. Mas a partir do momento em que o ministro da Economia surge publicamente, numa entrevista e num comício, a manifestar-se contra o que chamou "obsessão" da Alemanha com o rigor orçamental em França, naturalmente que Montebourg não tem mais condições para continuar a fazer parte do mesmo Governo de Manuel Valls. Até por uma questão de coerência. E foi o próprio Valls, segundo a imprensa francesa, que colocou a questão nos seguintes termos: "C'est lui ou moi!"
Sai Arnaud Montebourg e continua Valls, com a popularidade em queda. E François Hollande com a sua política de austeridade, aliviando apenas os impostos às empresas. E com sondagens que lhe dão uma taxa de aprovação de apenas 17%, um mínimo histórico.

E não deixa de ser curioso que, um dia antes de Montebourg ter criticado a austeridade, o presidente do BCE tenha feito um discurso em Jackson Hole em que veio defender... precisamente o mesmo. Mario Draghi pediu menos austeridade aos países do euro e quer que a política orçamental seja aliviada para ajudar a política monetária a ser mais eficaz. Numa altura em que a região se debate com uma inflação próxima de zero e com um crescimento económico anémico, o terreno começa a ficar fértil para que surjam mais Montebourgs na Europa.
 

  



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