Missão da NATO despede-se do Afeganistão no fim do ano mais mortífero

Uma operação para treinar a aconselhar as forças afegãs vai deixar no país 12 mil militares estrangeiros.

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O comandante da missão enrola a bandeira da ISAF na cerimónia em Cabul Shah Marai/AFP

Foi uma cerimónia discreta, anunciada no último momento, num ginásio no quartel-general da NATO em Cabul, a que assinalou o fim da missão da ISAF (Força Internacional de Assistência e Segurança) no Afeganistão. A discrição deve-se ao receio de atentados e lembra que a insurreição taliban fez de 2014 o ano mais mortífero para o país desde que os radicais foram derrubados do poder, em 2001.

Nos últimos 12 meses, pelo menos 4600 membros das forças de segurança afegãs morreram a combater os taliban – as perdas foram crescendo à medida que a NATO ia entregando a segurança de diferentes regiões ao novo Exército e polícia do Afeganistão. A ONU diz que até ao fim de Novembro morreram 3188 civis. A ISAF, que chegou ao país em Janeiro de 2002, viu morrer 3485 soldados nestes 13 anos.

A missão da NATO foi inicialmente pensada como uma força de capacetes azuis para proteger Cabul e ajudar os novos líderes, mas rapidamente evoluiu para uma operação de combate aos taliban espalhada por todo o país. Em 2011, chegou a ter 130 mil tropas oriundas de 50 países diferentes, incluindo Portugal.

Com o fim da ISAF, que teve sempre liderança dos Estados Unidos, ficarão no país 12 mil militares estrangeiros – a maioria, norte-americanos, poderá prestar apoio às novas unidades de contraterrorismo afegãs e envolver-se em combate; os soldados das restantes nacionalidades vão treinar e aconselhar as forças locais.

“Juntos, afastámos os afegãos das trevas e do desespero e demos-lhes esperança no futuro”, afirmou em Cabul o comandante da missão da NATO, o general norte-americano, John Campbell, depois da retirada da bandeira da ISAF. “A segurança do Afeganistão ficará inteiramente nas mãos dos 350.000 soldados e polícias do país”, disse o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, num comunicado.

“É preciso uma ajuda contínua e isso será prestado através da Apoio Firme”, a nova missão, afirma o adjunto de Campbell, o tenente-general alemão Carsten Jacobson, citado pelo Wall Street Journal. Alguns avisam que isso não chega: “Sem apoio aéreo, não haverá muitas diferenças entre nós e os taliban”, disse ao diário um responsável afegão.

O que também não ajuda é a incerteza política – após trocas de acusações de fraude, o acordo para a formação de um Governo de consenso permitiu a Ashraf Ghani tomar posse como Presidente, em Setembro, mas as negociações com o antigo rival, Abdullah Abdullah, estão bloqueadas e o país continua sem vários ministros importantes, incluindo o do Interior.

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