Ministro sírio prevê "época próspera" de turismo numa das regiões mais castigadas pela guerra

Fechando os olhos à guerra e à devastação, regime promete investimentos e iniciativas para reanimar o sector.

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Destruição do souk da Cidade Velha de Homs Yazen Homsy/Reuters

A frase foi dita de forma séria, sem pestanejar. Apesar da guerra que mata todos os dias, da devastação e da insegurança que faz da Síria um dos países mais perigosos do mundo, o Governo prevê “uma época turística próspera” para este Verão na província de Homs, uma das mais castigadas por um conflito que já provocou mais de 150 mil mortos.

Propaganda para consumo interno ou fantasia delirante? Não é fácil compreender os motivos por trás das declarações do ministro do Turismo sírio, citadas pela agência oficial Sana e repescadas pela AFP, quando no sábado visitou o Crac des Chevaliers, o castelo construído pelos cruzados numa colina junto à actual fronteira com o Líbano e que era, até ao início da guerra, a fortaleza medieval mais bem preservada do mundo e uma das principais atracções turísticas do país.

A classificação pela UNESCO como Património da Humanidade de pouco valeu à fortaleza quando, em Março, o Exército sírio lançou uma grande ofensiva para expulsar a rebelião da zona. As marcas dos combates e os objectos deixados à pressa pelos rebeldes e os civis que ali se refugiaram eram bem visíveis quando, na semana passada, jornalistas da AP visitaram a zona: “As paredes com marcas deixadas pela artilharia pesada, os telhados perfurados pelos ataques aéreos e estilhaços espalhados pelos seus artefactos religiosos”.

Na mesma ofensiva, as forças leais a Assad reconquistaram o vizinho Wadi al-Nasara (Vale dos Cristãos), agregado de pequenas aldeias cristãs conhecidas pelas suas igrejas e mosteiros antigos e que foram várias vezes atingidas nos combates.

Ganha a batalha, e apesar das centenas de mortos, Bisher Yazagi proclamou que o turismo vai regressar à zona graças “a várias actividades planeadas para o Verão”. Não revelou que iniciativas são essas, mas garantiu que haverá “muitas facilidades para os projectos de investimento turístico na região”. A acompanhá-lo na viagem, o governador de Homs, Talal al-Barazi, assegurou que, “graças ao sacrifício do Exército sírio, a vida regressa à província e o turismo será ressuscitado”.

No mesmo dia em que aconteceu a visita, a 40 km de distância, centenas de rebeldes começavam os preparativos para deixar a Cidade Velha de Homs, após quase dois anos de cerco e fome. Muitos dos edifícios históricos que atraiam multidões ao bairro ficaram reduzidos a pó, outros sofreram danos irreparáveis. E apesar de quase toda a cidade estar agora em poder do Exército, os combates prosseguem noutras zonas da província.

A situação não é melhor noutras regiões que, até 2011, alimentavam o turismo sírio, um sector que representava 14% do PIB do país, recorda a Reuters. É o caso de Alepo, a maior e uma das cidades mais visitadas da Síria, agora dividida entre o regime e a oposição. Por todo o país, os combates ou o risco de sequestros tornam impraticáveis muitas estradas – quem tem dinheiro opta agora por viajar de avião – e muitos locais históricos não resistiram aos combates e aos saques. E, para lá dos danos a um dos patrimónios mais ricos da região, a guerra continua a ceifar todos os dias dezenas de vidas, em bombardeamentos, ataques e execuções a sangue-frio.

Ainda assim, numa entrevista no final de Abril à Reuters, Yazagi dizia que a Síria tinha condições para atrair investimento e turistas estrangeiros. “A situação na Síria não é como o mundo imagina. Há áreas que são 100% seguras”, disse, dando como exemplo as montanhas na costa do Mediterrâneo, região onde é maioritária a seita alauita, a que pertence o Presidente Bashar al-Assad, e que o regime manteve sempre sob o seu controlo. “Em breve teremos legislação que vai facilitar muito o investimento, atraindo investidores de todo o mundo”.

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